Considerado um dos maiores artistas brasileiros da atualidade, Lázaro Ramos não deixa dúvidas sobre seu mérito a cada novo trabalho. Inventivo e inquieto, domina os palcos, a TV, as telas ou set, como demonstrou dirigindo um dos filmes mais imponentes de 2022, Medida Provisória, e as páginas, há pelo menos dez anos.
Em sua mais recente obra literária, Você Não é Invisível, publicado pela editora Objetiva, ele faz um resgate da própria história para falar aos mais jovens sobre o poder das palavras e das expectativas que criamos para nós mesmos e para os outros.
Em entrevista ao Metrópoles, Lázaro explica que Você Não É Invisível nasceu no início da pandemia, do desejo de conectar seus livros infantis com o Na Minha Pele. A obra, lançado em 2010, traz experiências e reflexões pessoais do autor sobre tomada de consciência, respeito as diferenças e atitude.
“Eu não sabia que seria um livro pra jovens, mas intuitivamente comecei a escrever coisas que eu gostaria de ter ouvido na minha juventude. Como ‘você não é invisível’, ‘você não precisa ficar sozinho nas suas angústias’. Eu queria falar sobre identidade, liberdade, sobre ser impulsivo, sobre ética…”, lembra.
Para Lázaro, a escolha dos jovens protagonistas, os irmãos Carlos e Vitória, ocorreu naturalmente, e guiada pelas próprias memórias. Além disso, ele diz que conversou com o público que pretendia atingir ao longo da escrita.
“Entendi que o que eu queria dizer pra mim na adolescência fazia sentido para os jovens de agora. Claro que tem uma outra camada, que é linguagem que tenta reproduzir os meios de comunicação”, explica, sobre os recursos interativos que agregou ao livro, como trechos em formato de tuites e códigos QR que direcionam a playlists.
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Liberdade para se expressar
Lázaro conta que começou a escrever cedo, cercado por inseguranças. “Eu não tinha coragem de mostrar, eu não achava que tinha qualidade e eu não achava que ia interessar a ninguém”, lembra. Na vida adulta, decidiu recorrer à habilidade para driblar o desemprego: conseguiu ficar em cartaz com sua primeira peça escrita por dois anos, com público.
“E era uma voz que já me habitava e eu não sabia que tinha valor. Depois disso, eu assumi esse lugar e tive coragem de mostrar pras pessoas o que eu comecei a escrever. E é um lugar muito legal, de liberdade, eu não tenho compromisso, não tenho chefe, horário, obrigação temática”, destaca Lázaro.
“Eu escrevo muito por prazer. É um dos lugares que eu mais tenho prazer hoje em dia que é onde meu coração está depositado sem ninguém mandar nele”.
Embora tenha imprimido toda sua identidade em Medida Provisória, Lázaro destaca a dificuldade de conseguir parceiros para o que chama de “fortalecimento de uma linguagem de entretenimento com relevância”.
“Porque ele traz o tema da luta antirracista, mas ele é um entretenimento que se conecta para além da bolha ativista. E também se comunica com ela. E eu acho isso importante, acho isso uma vitória e acho que isso é fruto de um trabalho coletivo. Depois de tantos anos pra conseguir viabilizar o filme, é muito bom ter essa linguagem comprovadamente reconhecida como sucesso e efetiva”, coloca.
Encontro com Viola Davis
O ator, que recebeu Viola Davis para um jantar em sua casa, em setembro deste ano, também falou sobre os bastidores do encontro. A atriz norte-americana esteve no país para divulgar Mulher Rei e falou à imprensa sobre representatividade no cinema e como essa história não poderia ser contada sem o Brasil.
“A gente precisa mesmo fazer essa rede de apoio de divulgação o porque é cinema relevante e de qualidade que a gente tem no nosso país”, analisa Lázaro. “E a Viola foi um momento de brinde a isso”.
“O mais bonito é que quando a gente vai conhecer um ídolo, a gente fica com medo de se decepcionar. E o que eu tenho a dizer sobre ela é que ela não decepciona”, conclui.
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