Sem camisa, deitado na cama e pronto para fazer mais uma vítima. Um vídeo obtido pela coluna mostra um pouco do arsenal de artimanhas usadas pelo terceiro-sargento do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal (CBMDF) Raphael Martins Zille Ferreira, 38 anos, para iludir uma das 18 mulheres que o acusam de estelionato amoroso.
Na gravação, o militar afirma estar com saudade de uma das vítimas. “Oi, mozão. Tá tarde, você está aí viajando e eu estou aqui em casa quieto”, inicia. “Volta logo, estou com saudade. Beijo. Te adoro muito”, completa.
Assista:
Ao menos cinco ocorrências contra ele foram registradas na Polícia Civil do DF (PCDF). Todas apuram o caso do militar, que chegou a noivar, simultaneamente, com seis mulheres em um ano. O Corpo de Bombeiros do Distrito Federal (CBMDF) afirmou, por meio de nota, que também vai investigar o caso.
A corporação afirmou que tomou conhecimento da denúncia e, por meio da corregedoria, “foi iniciada apuração das circunstâncias buscando a elucidação dos fatos e suas consequências.”
O CBMDF ainda manifestou-se contrário a “qualquer forma de violência, seja física, verbal ou psicológica, bem como condutas inadequadas aos preceitos da moral e dos bons costumes.”
“Pirâmide do amor”
Raphael figura como investigado numa das ocorrências policiais registrada por uma vítima. A mulher em questão se relacionou com o militar por cinco anos e tem uma filha com ele.
Além de ter uma série de namoradas — muitas na condição de noivas —, o terceiro-sargento desenvolveu uma espécie de “pirâmide do amor”, que funcionava com uso do dinheiro das vítimas. Ao pedir valores em espécie ou presentes para uma delas, o militar repassava os mimos para outra, e assim por diante.
Vítima fala de ameaças do bombeiro golpista: “Dizia que ia matar e enterrar no quintal de casa”
Por exemplo: uma das vítimas contou ter comprado dois smartwatches a pedido do bombeiro. No entanto, ela descobriu que o militar havia dado os relógios de presente para outra namorada.
A vida fácil do sargento seguia o mesmo ritmo quando ele queria almoçar ou jantar em restaurantes caros. Geralmente, a conta era paga pela namorada que o acompanhava.
Veja fotos do bombeiro acusado de estelionato amoroso por 18 mulheres:
Reprodução
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Casa bancada
Os presentes e pedidos de dinheiro emprestado não eram suficientes para conter a sanha do militar em explorar as mulheres. O bombeiro construiu uma casa no Jardim Botânico e usou várias das namoradas para bancar benfeitorias no imóvel.
As vítimas pagaram desde uma banheira para a mansão, passando pela instalação do piso, até cortinas, pias e torneiras. Quase todo o acabamento teria sido financiado por algumas das mulheres, que acreditavam estar em um relacionamento sério e promissor.
A rede de mentiras tecida pelo militar era calculada friamente, segundo uma das vítimas ouvida pela coluna Na Mira. “Ele não tinha a menor preocupação de ser fotografado, filmado ou sair de mãos dadas com as tantas namoradas e noivas em lugar público. O Raphael chegava a republicar fotos no Instagram, mas bloqueava temporariamente as mulheres com que ele se relacionava e, depois, desbloqueava, quando as fotos saíam dos Stories”, contou.
O bombeiro enredava as mulheres de tal forma que participava de eventos familiares com cada uma das vítimas, viajava com elas e ainda encontrava tempo para marcar presença nos fins de semana com cada uma das namoradas.
“Depois, descobriram que ele tomava café com uma, almoçava com outra e jantava com a próxima da lista. Ele sempre foi muito frio e conseguia criar desculpas para sustentar a falsa relação”, relatou uma das mulheres que comprou uma série de eletrodomésticos para a casa do militar.
Ameaça e coação
Quando uma das mulheres descobria as traições, o bombeiro se tornava ainda mais abusivo. De acordo com uma das vítimas, que demorou a se libertar do relacionamento, o terceiro-sargento fazia questão de frisar que tinha uma arma e uma grande coleção de facas.
Ao tentar terminar a relação, a vítima teria ouvido do militar: “Se você arrumar outro homem, vou te matar e te enterrar no quintal da minha casa”.
As ameaças e coações ocorriam, quase sempre, pessoalmente, para evitar que as mulheres juntassem provas contra o bombeiro. Em algumas ocasiões, as vítimas eram vigiadas, perseguidas e tinham a casa rondada ou até invadida pelo militar.
“Muitas mulheres que se relacionaram com ele ficaram com medo e, até hoje, não conseguiram ter coragem de denunciá-lo, mas outras tomaram a frente e estão registrando ocorrência, para tentar acabar com esse ciclo de abusos e violência”, disse uma das vítimas.
A coluna Na Mira apurou que o militar tem seis filhos, com seis mulheres diferentes, e reconheceu a paternidade de apenas um. Após o pedido de medidas protetivas por parte de uma das vítimas, o bombeiro passou a evitar citá-la, para que a medida não entre, oficialmente, em vigor.
A investigação do caso corre na Delegacia Especial de Atendimento a Mulher (Deam), onde cinco vítimas registraram ocorrência e prestaram depoimento.
O Metrópoles tentou contato com Raphael Zille, por meio de redes sociais atribuídas ao militar, mas, até a mais recente atualização desta reportagem, o bombeiro não havia respondido. O espaço segue aberto para eventuais manifestações.
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