Acusado de matar estudante da USP é achado morto com sinais que sofreu tortura além de ser estuprado

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Homem foi encontrado morto envolto em lona com sinais de tortura na Avenida Morumbi. Bruna Oliveira da Silva foi encontrada morta em 17/4

São Paulo — O suspeito de ter matado a estudante Bruna Oliveira da Silva, de 28 anos, foi encontrado morto na noite dessa quarta-feira (23/4), na Avenida Morumbi, na zona oeste de São Paulo. A mestranda da Universidade de São Paulo (USP) foi encontrada morta na última quinta-feira (17/4), nos fundos de um estacionamento, na zona leste de São Paulo.

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que policiais do Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) encontraram o corpo enquanto buscavam pelo suspeito, após a Justiça deferir o pedido de prisão temporária contra o homem. De acordo com o boletim de ocorrência, obtido pelo Metrópoles, o homem foi encontrado envolto em uma lona azul com lesões pelo corpo. Ele foi esfaqueado mais de 10 vezes, no tronco, no tórax, no abdômen, na nuca e na região anal.

“Pela quantidade e natureza das lesões, entendemos que a morte se deu de forma dolorosa, com emprego de tortura”, diz o boletim de ocorrência.

Nessa quarta-feira (23/4), a Polícia Civil havia divulgado a foto do suspeito após disponibilizar um retrato falado referenciado por imagens. De acordo com a polícia, a caracterização (à direita na foto abaixo) é uma ilustração feita a partir de uma técnica que combina o retrato falado colorido com o auxílio de inteligência artificial (IA).

A identificação do suspeito foi confirmada pela Secretaria da Segurança Pública (SSP) na terça-feira (22/4). Segundo a pasta, além de ter pedido a prisão temporária do suspeito, a equipe do DHPP aguardava o resultado dos exames periciais do Instituto de Criminalística (IC) e do Instituto Médico-Legal (IML).

Segundo a delegada Ivalda Aleixo, diretora do DHPP e responsável pelo caso, o autor do crime tinha dois filhos e uma ex-esposa. “Foi acusado de roubo uma vez, em 2008, mas não tem nada de violência doméstica ou de agressão que ele tenha praticado contra alguém”, afirmou em entrevista coletiva à imprensa.

Perseguição

Câmeras de segurança flagraram o momento em que o homem segue e aborda Bruna Oliveira da Silva em uma avenida, na zona leste da capital. Veja:

Na última quinta-feira (17/4), Bruna foi encontrada nos fundos de um estacionamento, na Avenida Miguel Ignácio Curi, região da Vila Carmosina, na zona leste de São Paulo. A mestranda da USP estava desaparecida desde 13 de abril e havia sido vista pela última vez no terminal de ônibus da estação de metrô Corinthians-Itaquera.

Relembre o caso

  • Bruna desapareceu no trajeto entre a estação Corinthians-Itaquera do metrô e casa onde morava com os pais, na zona leste.
  • Ela voltava da casa do namorado, no Butantã, zona oeste.
  • No terminal da estação Itaquera, ela precisou carregar o celular em uma banca de jornal. Nesse momento, chegou a mandar uma mensagem para o namorado pedindo dinheiro para voltar para casa por carro de aplicativo, porque já estava tarde.
  • Ele transferiu o valor, mas o celular da estudante teria descarregado e não foi mais possível ter contato com ela.
  • Conforme Karina Amorim, amiga da vítima, a última vez que ela acessou o WhatsApp foi às 22h21 do domingo (13/4).
  • A família de Bruna entrou em contato com a plataforma de carros de aplicativo, que informou que a jovem não chegou a solicitar uma corrida naquela noite.

Protesto

Estudantes da USP Leste, responsável pelos cursos de arte, ciência e humanidades, realizarão um ato simbólico nesta quinta-feira (24/4), “a fim de exigir justiça e cobrar seriedade nas investigações”.

Segundo as estudantes, ainda não foi esclarecida a situação em que os policiais militares encontraram o corpo da estudante. Eles registraram o caso como morte suspeita, “não pegando provas no momento de levar o corpo e atrapalhando as investigações do DHPP”.

O documento também diz que o caso da Bruna não é isolado e “que as mulheres são violentadas cotidianamente”. Além disso, o grupo se articula para que o ato seja realizado com o apoio de coletivos feministas, movimentos sociais, parlamentares e movimentos estudantis.

As estudantes pedem medidas concretas que atendam à realidade da população, que as políticas de atendimento às mulheres sejam articuladas com diversas redes de atendimento e que as câmeras de segurança sejam abertas: “A família, os estudantes, os professores, os funcionários e todos aqueles que tiveram contato com Bruna exigem justiça e resposta para esse crime brutal e cruel”.

Namorado relembra cronologia

Bruna havia ido para a casa de Igor Sales, seu namorado, que fica no Butantã, na zona oeste, na semana anterior. No sábado, voltou para a residência da família, em Itaquera, e, depois, foi se encontrar com uma amiga. Bruna voltou para a casa de Igor no mesmo sábado à noite, contra o conselho do namorado.

“Eu tinha falado para ela não vir, porque ela tinha que pegar o filho dela no domingo de manhã”, disse.

Segundo Igor, era comum Bruna precisar insistir para que o ex ficasse com o menino. No domingo, ela pediu para o pai de seu filho levar a criança na segunda-feira de manhã. Assim, ela poderia ficar mais tempo da casa do atual namorado.

O ex não concordou com a mudança. Bruna, então, pediu para o ex combinar com seu pai um encontro da estação de metrô para que ele entregasse a criança.

“Ela ficou comigo até 20h, até o limite, porque o pai dela tinha que ir trabalhar às 22h30, então, ela tinha que ir embora”, lembrou Igor. Ele diz que ofereceu, como sempre fazia, levá-la de moto até em casa. Porém, como havia chovido muito no Butantã, Bruna pediu apenas uma carona até a estação de metrô.

Igor contou que Bruna chegou à estação Itaquera por volta das 22h. Lá, descobriu ter perdido o ônibus que passava próximo à sua casa e decidiu fazer o trajeto a pé. Igor pediu que ela pegasse um carro de aplicativo e transferiu o valor para que a jovem pagasse a corrida. Às 22h09, ela disse que estava carregando o celular em uma banca de comércio e que iria esperar até que valor da viagem via app ficasse mais barato. Às 22h19, ela mandou: “Estou indo”.

“Depois de 10 minutos, eu mandei mensagem, perguntando se tinha dado certo, porque [a estação] é bem próxima da casa dela. Não dá nem cinco minutos. A mensagem chegou, mas ela não respondeu. Comecei a ligar e nada”, contou Igor.

Ele achou que a namorada poderia estar sem energia elétrica em casa e, como estava sem bateria antes, teria ido dormir. Durante a madrugada, Igor acordou algumas vezes e conferiu o celular, ainda sem resposta de Bruna.

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