Yago Dora: brasileiro se torna campeão mundial de surf

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O surfista Yago Dora concedeu entrevista nesta terça-feira (2) diretamente de Fiji, menos de 24 horas após a conquista de seu primeiro título mundial na WSL. O atleta conversou com jornalistas brasileiros e se mostrou realizado por ter alcançado a glória após muitos anos de dedicação.

– Acordei de ressaca, porque a gente festejou ontem. Primeira sensação foi ruim (riso). Mas foi muito legal. Não estava me sentindo muito bem, mas sentei no sofá e fiquei encarando o troféu. É muito doido pensar que esse negócio é meu para sempre! – vibrou Dora.

Yago falou sobre o empenho de surfistas que iniciam suas carreiras entre os juniores e como os compatriotas da WSL o inspiraram na jornada até a vitória no WSL Finals.

– Tudo começa desde criança. Esses caras (Gabriel Medina e Miguel Pupo) que vieram um pouco mais cedo tiveram um circuito de base muito forte, competindo direto, campeonatos de bom nível todo fim de semana. Isso forma atletas. Eu peguei o início, mas já em decadência desses eventos. Até por isso, eu demorei um pouco mais para ganhar confiança e me sentir bem. Esses outros caras foram formados dentro da competição… Para mim, esse foi um processo mais longo. A galera virou atleta mesmo, levou a sério o surfe. Pela minha experiência dentro do circuito, os brasileiros são os que trabalham mais duro. Colocando esse fogo, esse sangue brasileiro de querer a vitória e não desistir nunca – explicou.

A disputa do WSL Finals deixou de ser disputada em Trestles e ganhou palco nas ondas de Cloubreak. Dora esteve próximo da classificação para o evento no passado, mas aproveitou o bom momento em 2025 para garantir a vitória.

– Bati na trave nas últimas temporadas. Senti que, se eu tivesse nas outras finais, eu me enxergava com chances de vencer. Pelo fato de ser em San Clemente, ondas que me identifico muito. Esse ano também é uma onda que encaixa muito com meu surfe. Minha meta, desde o começo do ano, era classificar entre os três primeiros, para ter uma margem legal. Essa vantagem do primeiro lugar foi muito valiosa. Assim que eu soube que essa mudança iria acontecer (o líder só precisar vencer a primeira bateria), foquei muito em assumir a liderança. Queria ficar com ela até o Finals – analisou.

O formato Finals obriga o líder do ranking a defender sua posição mesmo após a temporada regular. Yago Dora precisou lidar com este fator para levantar a taça de campeão mundial.

– É muita pressão. Tem chances do trabalho que você fez ao longo de todo o ano ir pelo ralo. Foi muito importante tentar me manter calmo e cercado as pessoas que amo. Consegui treinar bastante (em Fiji antes do Finals), me manter preparado mentalmente e presente a cada dia, mesmo com os “days off” – disse Dora.

Na decisão contra Griffin Colapinto, o brasileiro estava na água enquanto o adversário surfava para a última tentativa de conquistar uma virada no minuto derradeiro.

– Eu assisti a um pedaço da onda dele, que precisava de um 9.50 ou algo assim. Percebi que não ia sair a nota e passou um filme na cabeça. A sensação que veio é de que o momento foi muito rápido. Começa a vir o filme de toda a dúvida, pressão e adversidades que a gente tem que passar para conquistar o título mundial – relembrou Yago.

No dia seguinte ao Finals, Yago Dora apareceu de cabelo raspado em uma clara homenagem a um ídolo nacional. O surfista explicou melhor esta história e ainda reforçou o motivo pelo qual veste o número nas costas.

– Eu cresci com as memórias do Ronaldo, da seleção brasileira. Quando eu era criança, o Brasil foi penta. Sempre ficou na minha cabeça. Acho o futebol um esporte muito bonito e adoro assistir quando dá. O 9 representa isso. O cara que chega na hora importante e decide. Era isso que eu queria me tornar e funcionou! – vibrou Dora.

Yago viveu uma situação familiar curiosa com seu pai durante a prévia do WSL Finals. Leandro Dora decidiu abrir mão de sua parceria com Jack Robinson para torcer pelo filho na decisão.

– Eu fiquei feliz que eles (Leandro Dora treinando Jack Robinson) conseguiram a classificação porque meu pai estaria aqui para assistir minha vitória no evento. Foi uma motivação querer ganhar dele (risos). O Jack teve esse papo com o meu pai e foi uma grande atitude dele. Respeito muito ele por ter feito isso e ter entendido o momento. Foi admirável a atitude de uma boa pessoa que é o Jack – analisou Yago.

A parceria entre surfista e shaper (quem monta as pranchas) é fundamental no caminho para o sucesso. O brasileiro fez questão de ressaltar quem o ajuda todos os dias dentro e fora das baterias.

– Fui o primeiro campeão mundial masculino a usar as pranchas Mayhem. Estou bem feliz de poder compartilhar esse título com o Matt Biolos (shaper). Ele venceu o ranking de pranchas nos últimos três anos consecutivos, mas ainda não tinha conquistado um titulo mundial. Temos feito um trabalho muito legal também com o Jean, que é um brasileiro da Lost, na Califórnia. Eles têm feito de tudo por mim, as pranchas estão cada vez melhores. Aqui em Fiji usei uma prancha 6″1 Stepdriver, um modelo feito para ondas com força. Acho que é um dos que mais uso no Circuito Mundial. Eu tinha usado essa prancha só por uns 20 minutos antes do Finals e foi com ela que venci o evento – explicou.

Leandro Dora sempre foi uma inspiração para Yago Dora. O interesse do pupilo pelo surfe, porém, só se fortaleceu no período da adolescência.

– O surfe sempre fez parte da minha vida através do meu pai, mesmo antes de eu começar a surfar. Demorei a ter vontade porque é um esporte muito difícil de aprender. Quando era mais novo, eu queria jogar futebol e estava nessa pilha. O que me motivou a surfar foi minha amizade com Lucas Silveira, quando ele se mudou para Florianópolis. Tínhamos a mesma idade e ele estava surfando com patrocínio, foi importante ter um amigo próximo. Fiquei mais voltado ao freesurf e produção de vídeos na adolescência. Aos 17 ou 18 anos, tive vontade de testar meu nível competitivo – relembrou Yago.

Kelly Slater estava em Fiji durante o WSL Finals como espectador. Ainda ativo em algumas etapas do calendário, o lendário surfista ainda é fonte de forte idolatria da geração de competidores que hoje toma conta do cenário esportivo.

– É muito doido porque, quando eu estava nascendo, o Kelly já estava ganhando título mundial. Foi legal demais ter ele aqui curtindo conosco, assim como o Jordy Smith, que eu assistia muitas baterias quando era criança e ontem estávamos disputando um título mundial – disse Yago Dora.

Dora se tornou o quinto brasileiro a vencer o título mundial da WSL. Ele se junta a nomes como Filipe Toledo e Italo Ferreira, mas também guarda um carinho especial por outra dupla da Brazilian Storm.

– Estou muito honrado. Quando entrei no Circuito, esses caras estavam começando a ganhar títulos mundiais. Sempre usei Gabriel Medina e Adriano de Souza como inspiração. Estive próximo do Mineirinho porque ele era treinado pelo meu pai. São exemplos de atletas que tive a sorte de poder me inspirar para conseguir me juntar a eles – comemorou.

 

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