João Alvarenga
Quais aprendizados a pandemia da Covid-19 deixará à humanidade? Esse questionamento, tão presente nestes tempos difíceis, também frequenta o ambiente escolar. Ou seja, mesmo com as chamadas aulas virtuais, tal inquietação é visível, não só entre os educadores; mas, principalmente, entre os estudantes, pois o contexto ainda é de incertezas, já que há mais perguntas do que respostas. Até para os cientistas o vírus é uma incógnita. Apesar disso, os docentes não devem desperdiçar nenhuma oportunidade para promover o aprimoramento intelectual do grupo, sem perder o foco na busca do equilíbrio emocional de todos.
Por isso, durante as aulas de Produção de Textos, sempre faço um exercício de reflexão sobre variados assuntos de caráter midiático de alcance social. Logo, até mesmo do cenário atual, apesar de tanta dor, é possível extrair boas lições, a começar pela solidariedade, com várias iniciativas de grupos sociais que visam amenizar o sofrimento de quem ficou sem renda, devido à quarentena.
Assim, com a possibilidade dessa crise sanitária vir a ser tema de vestibulares, promovi, com os alunos, um debate saudável, a partir do seguinte recorte: “Quais aprendizados a Covid-19 deixará?”. A experiência foi satisfatória, porque expuseram muitas respostas consistentes. Lembraram, durante a discussão virtual, que os verbos “adaptar-se”, “reinventar-se” e “redescobrir-se” são empregados, agora, com maior ênfase e amplitude de sentidos.
Na visão dos jovens, a expressão “novo normal” veio para ficar e, mesmo que haja uma vacina eficaz, a máscara cirúrgica será usada por um bom tempo, até que os riscos de contaminação sejam reduzidos a zero. Muitos acreditam, também, que os totens com álcool, em gel, permanecerão nos estabelecimentos públicos e nos restaurantes, não só como uma medida preventiva, mas para garantir higiene na manipulação de alimentos.
Outra verdade tangível: o termo home office deixou de ser uma mera opção para se tornar uma necessidade permanente, algo que representa um risco ao trabalhador, já que essa prática invadiu o ambiente doméstico e “roubou” o minguado tempo destinado ao lazer. Com isso, não há como mensurar o tempo dedicado ao trabalho e à família, já que o trabalho se tornou quase que intermitente. Algo que, num futuro breve, terá que ser revisto, com uma legislação que regule a atividade remota, a fim de garantir o que ainda resta dos direitos trabalhistas.
Nessa mesma situação estão os professores, pois com as videoaulas, passam o dobro do tempo diante dos computadores, porque além das aulas, as demais atividades burocráticas também são desenvolvidas virtualmente. Com isso, o cansaço intelectual dos doentes tornou-se evidente, porque a jornada ficou pesada. Antes da quarentena, os mestres se deslocavam até as escolas, isso dava um tempo de relaxamento mental, embora o trânsito também fosse estressante. Agora, muitos não mudam de cenário e passam a semana inteira no ambiente virtual, com raríssimas saídas para abastecer a casa.
Para finalizar, destacaram que as palavras “protocolo”, “flexibilização” “imunidade de rebanho”, “quarentena”, “respostas imunes” e a recém-importada “lockdown” passaram a fazer parte do cotidiano dos brasileiros. Outro ponto destacado pelos estudantes merece toda atenção dos governantes do globo: a pandemia não surgiu do acaso nem é fruto de um “castigo divino”; mas, resulta da visível degradação ambiental. Para os jovens, quanto mais o ser humano invadir o habitat natural, com a sanha do progresso desmedido, mais suscetíveis estaremos a ataques de micro-organismo com alta taxa de letalidade.
João Alvarenga – professor de Língua Portuguesa, mestre em Comunicação e Cultura, produz e apresenta, com Alessandra Santos, o programa Nossa Língua Sem Segredos, que vai ao ar pela Cruzeiro FM (92,3 MHz), às segundas-feiras, das 22h às 24h.
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