Pedrinho, Emília, Dona Benta, Visconde de Sabugosa e Narizinho são personagens que fizeram parte da infância de muitos brasileiros, seja pelos livros ou mesmo pelas adaptações para televisão de O Sítio do Picapau Amarelo. Marco da literatura infantil no país, as histórias de Monteiro Lobato tiveram seu pontapé inicial com A Menina do Narizinho Arrebitado, que completou 100 anos de sua publicação nessa sexta-feira (4/12).
Uma das mais famosas personagens brasileiras, Narizinho vai ganhar uma repaginação de suas histórias e ilustrações em comemoração de seu primeiro centenário. Através de parceria de Cleo Monteiro Lobato e a editora Nereide Santa Rosa, o livro A Menina do Narizinho Arrebitado, marco da literatura infantil do Brasil, vai ser relançado em português e em inglês.
Em entrevista ao Metrópoles, Cleo, que é bisneta de Monteiro Lobato, contou que a atualização do livro surgiu da ideia de tentar popularizar as história de Narizinho nos Estados Unidos e fazer com que as mensagens do Sítio voltassem a preferência das crianças brasileiras – que perdeu força nos últimos anos com a ascensão das produções norte-americanas no país.
“O Brasil tem uma fascinação pelo o que é americano, então aceitam e gostam com mais facilidade. Já aqui nos EUA, o povo não olha para o que está fora. Então se não tiver uma visual americano, meio ‘disneyano’, eles não aceitam. Eu acho que o texto com as ilustrações novas fazem essa ponte do brasileiro o transformando em universal”, contou Cleo.
Antes de dar início ao processo de atualização e tradução do texto, a curadora lançou um desafio em seu perfil no Instagram para incentivar ilustradores brasileiros a reimaginar os personagens do Sítio do Picapau Amarelo. O concurso foi vencido pelo recifense Rafael Sam, com uma releitura da foto dos Beatles, mas ao invés dos membros bandas, estão Visconde, Cuca, Emília e Saci.
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De acordo com Cleo, a ideia foi manter de forma mais fiel possível a obra original de Monteiro Lobato, mas foi preciso fazer algumas alterações na linguagem utilizada na época, que tinha termos e frases de cunho racista, em referência a Tia Nastácia, por exemplo.
“Foi um processo interessante. Não dá para gente ficar isolado, sabe? A evolução social acontece e estamos vivendo ela. Na hora que eu fui publicar em português nós encontramos algumas coisas, que optamos por deixar para gerar debate, porque se não íamos desvirtuar a obra e Lobato sempre foi polêmico, até para criança”, explicou.
“O livro vai ser usado para quem quiser, os pais, professores para discutir. Mas o que não dá mais era a caracterização da Tia Nastácia. Na época alguns termos, como ‘Sinhá’, eram usados e elas não devem ser usadas hoje, nossa evolução social já passou desse ponto”, completou.
Popularização nos EUA
Além da versão em português, Cleo vai lançar, também, através da editora Underline Publishing, situada na Flórida, uma versão em inglês. O objetivo é atingir tanto a população de imigrantes brasileiros, quanto apresentar as histórias de Monteiro Lobato aos americanos.
“No processo de descobrir o público alvo nos EUA, descobri que era principalmente uma galera brasileira, imigrante, que tem por volta dos 40 anos e que tinha visto as histórias na televisão, mas não tinha lido. E que estavam querendo passar essa brasilidade, essa conexão com o Brasil aos filhos, além de ensinar português. Eu estava querendo traduzir, mas o público queria em português (risos)”, pontuou.
Além das mudanças sociais da versão em português, a atualização em inglês contou com algumas alterações para ambientar o público norte-americano, mas ao mesmo tempo apresentar a cultura e o folclore brasileiro. Para isto, ela contou com ajuda da historiadora Rose Lee Hayden.
“Eu queria muito manter Monteiro Lobato, manter essa brasilidade o máximo possível. Ela (Rose) me ajudou bastante a entender a cabeça do americano e, assim, mudamos algumas coisas como algumas expressões e onomatopeias”, explicou Cleo, que ainda ressaltou a opção por não traduzir os nomes das personagens para o inglês, mantendo da mesma forma que é no Brasil. “É o nariz mais bonito do mundo”, brincou.
Junto ao lançamentos dos livros – a versão brasileira já está sendo vendida e a em inglês estará disponível para compra a partir da semana que vem na Amazon – acontece até o próximo domingo (6/12), um evento on-line com debates, podcasts e leituras das obras de Lobato em comemoração aos 100 anos do lançamento de A Menina do Narizinho Arrebitado.
Cleo adiantou, que atualizações de outras obras estão em andamento: “Em 2021, lançaremos mais três livros: O Sítio do Picapau Amarelo, O Marquês de Rabicó e O Casamento de Narizinho. Comecei a traduzir a segunda história também para o inglês”.
Por fim, a bisneta de Lobato falou sobre a expectativa de manter a obra do bisavô viva. “Eu espero que Monteiro Lobato continue sendo lendo pelos próximos 80, 100 anos. Acho que essas pequenas adaptações vão facilitar muito para as histórias continuarem vivas”, disse.
“As edições originais vão continuar sendo vendidas, mas agora os professores e pais vão poder escolher. Além disso, algumas obras de Lobato estão sendo traduzidas para o alemão e o espanhol, então acho que está tendo um renascimento das histórias e gostaria que ele continuasse sendo lido por, pelo menos, os próximos 100 anos”, encerrou.
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