Ativistas opinam sobre peso do racismo em conduta de Nego do Borel

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Os fatos que levaram à expulsão de Nego do Borel de A Fazenda 13 continuam gerando polêmica nas redes sociais. Acusado de ter abusado sexualmente da modelo Dayane Mello no reality, o cantor gravou um vídeo no qual defende sua inocência, e alega estar sendo vítima de racismo estrutural. Parte da web se sensibilizou com o relato, levando a hashtag Record Apoia o Racismo à lista dos assuntos mais comentados no Twitter nesta segunda-feira (27/9). Ativistas negros, contudo, sugerem que o caso precisa ser analisado com cautela.

Colunista do Metrópoles, Anderson França, por exemplo, acredita que dificilmente um artista branco seria condenado com a mesma ênfase. Apesar disso, ele defende que Nego precisa responder pelas acusações que lhe pesam, dentro e fora da atração da Record TV.

“Quando se vê o vídeo do reality, de fato, vemos uma cena de pedido de cessação de contato. Eu concordo, em termos legais, que isso possa ser enquadrado como diz a lei. Mas o que está sendo problemático, ao meu ver, não é a lei, não é a vítima, não é a carreira de Nego. É a ênfase. A mídia brasileira, a sociedade brasileira criminaliza o negro antes mesmo de um crime. Então pense que, quando esse negro comete um crime, e esse pode ser o caso aqui, ele será excessivamente punido”, avalia.

Para Anderson, homens brancos não têm esse grau de exposição nem punição ao violarem mulheres. “Nego deve responder na lei. Nós, sociedade, devemos responder porque estamos com esse overreaction. Porque se ele está errado, nós também estamos. A menos que o mesmo barulho seja feito para todos os homens brancos. Então, estamos falando de força equivalente”, avaliou.

“Não é pano. É aplicar a lei. Que seja. Mas pra todos. Porque todo homem é estuprador em potencial. Um leitor me disse que com saída dele, as mulheres ‘estão seguras agora’. Percebe? Há outros homens lá. Mas o homem negro é o problema. Esse, no entanto, é um debate para além da lei. E o Brasil, infelizmente, ainda não é um país. Somos um pedaço de terra, selvagem, que mata indígenas, mulheres e negros, e não vamos resolver a cultura do estupro julgando na internet um reality show promovido por um pastor que recebe doação de fraudador de pirâmide de bitcoin. Vamos resolver a cultura do estupro ensinando os meninos sobre igualdade de gênero”, concluiu o ativista. 


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A jornalista e pesquisadora Tatiana Lima expôs uma opinião semelhante nas redes sociais. “Nego do Borel já tinha histórico. Inclusive, [foi] denunciado por violência doméstica. Porém, mídia e sociedade só olhou para isso quando uma mina branca denunciou. Para mim, ele tem que responder e ser punido pelo que fez e ponto. Porém, não dá pra dizer que não houve racismo, uma vez que estão usando argumentos como ‘sabia, sempre teve cara disso’ ou tentativas de dizer que o dinheiro q ele tem só pode vir do ‘tráfico’. São duas dimensões q se cruzam — racismo, gênero e violência — e precisam ser avaliadas”, opinou. 

Preta Ferreira também opinou sobre o assunto em suas redes.  A cantora e compositora afirmou não ser possível “generalizar e muito menos estereotipar os abusadores sexuais, porque não é a cor que define o caráter, homem branco também violenta mulheres”, mas que “esses programas de TV são armadilhas para desmoralizar o povo preto”.

“Teve um outro programa desse que o cara branco foi acusado de estupro por várias manas. Vocês lembram? Esse final de semana ele estava na TV como se nada tivesse acontecido. Brasileiro não tem memória curta, tem seletividade, mesmo”, afirmou Preta, sem citar nomes.

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