Especialistas analisam queda da Netflix e próximos desafios da empresa

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Nas últimas semanas, a Netflix apresentou o seu primeiro relatório do ano de 2022. Com queda de 20% de suas ações, além de perder 200 mil usuários, a empresa chocou o mercado e os especialistas que analisam a movimentação dos streamings. Visando uma melhor explicação do que houve com a gigante plataforma, o Metrópoles ouviu especialistas e buscou entender as soluções possíveis para que a situação fosse revertida.

Para Pedro Butcher, professor de Cinema e Audiovisual da ESPM Rio, outro ponto do relatório chamou mais a atenção do que a atual queda dos números streaming. ” A previsão de que a Netflix deve perder mais 2 milhões de assinantes nos próximos meses ou anos. O que significa que a Netflix reviu o seu plano de crescimento para baixo, digamos assim, e isso tem um impacto no mercado financeiro. O primeiro dado importante é que houve um crescimento exponencial durante a pandemia, o que deve ter dado uma visão um pouco distorcida porque foi uma situação excepcional e acelerou um processo que já vinha acontecendo antes, que é uma tendência de migração do consumidor para o streaming, mas isso também levou à uma extrema competição”, analisou o profissional. 


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Durante alguns anos, a Netflix surfou como a pioneira, por apostar na tecnologia do streaming e a empresa teve muita vantagem de ter sido quem se arriscou nesse mercado. Ao mesmo tempo, uma série de atritos com os próprios estúdios de Hollywood fez com que cada estúdio tivesse um projeto para lançar o seu próprio canal, retirando o conteúdo que originalmente estava na Netflix”, completou Butcher.

A queda

Já para Thiago Lobão, CEO da Catarina Capital, a queda das ações foi derivada dos resultados operacionais ruins com novo índice de volume de usuários. “Esse é o marco crítico para a empresa, que mostra realmente se a companhia está conseguindo crescer cada vez mais o seu posicionamento em multigeografias para muitos tipos de personas e usuários-alvo. O que está acontecendo agora, depois de quase uma década, é um movimento reverso, uma perda de usuários”, explicou. 

Para Lobão, também a guerra na Europa e as sanções foram diretamente responsáveis por essa queda de assinantes. “Neste primeiro resultado, apresentado no final do primeiro quarto, uma queda que também tem uma influência forte da ausência de usuários russos, 700 mil usuários, mas, na prática, mesmo se você considerasse a Rússia, o incremento seria de apenas 500 mil usuários, contra uma meta de 2,5 milhões de novos usuários no primeiro trimestre, ou seja, muito aquém das expectativas”, pontuou. 

Thiago Romariz, jornalista especializado em cultura pop, atribuiu a queda da Netflix ao grande cardápio oferecido por todas as empresas de streaming. “É importante lembrar que a ‘locadora vermelha’ ganhou quase 40 milhões de assinantes no pico da pandemia, então já era esperado, a empresa mesmo disse, perder muitos assinantes logo depois. Também tem uma questão que em quase 10 anos de Netflix, a empresa nunca teve concorrência que realmente ameaçasse esse reinado. Hoje há um amadurecimento, principalmente na parte de conteúdo, por conta dos novos streamings, e você começa a ter uma disputa um pouco mais relevante em relação ao conteúdo. É natural que as pessoas comecem a olhar outros tipos de opções.

Streaming ainda é hegemônico

Entretanto, para os dois profissionais, a Netflix ainda é a primeira opção de muitas pessoas que buscam uma produção, seja ela uma série ou um filme. “A Netflix continua sendo, de certa maneira, uma primeira opção como janela de streaming, mas os usuários têm buscado outras alternativas que são novas e que tem catálogos interessantes à disposição no mercado”, opinou Lobão. 

“Eu acho que tem um certo excesso na preocupação quanto à queda de assinantes, claro que não é bom, mas são 200 milhões de assinantes no mundo, qual a empresa que tem essa base de usuários? A Netflix ainda é uma empresa de muito potencial, que tem já uma presença e uma marca fortíssima, em muitos sentidos sentidos ela é quase hegemônica, das pessoas procurarem primeiro o conteúdo na Netflix”, completou Butcher. 

Novas estratégias

Thiago Lobão ainda aproveitou para analisar a entrada no mundo dos games por parte da gigante dos streamings. “Se a gente está falando que o streaming é competitivo, imagine você falar de mobile games com players já supersacramentados que estão cada vez mais associados com as empresas. É uma briga de cachorro muito grande e eu entendo esse movimento de games como uma tentativa de monetização em uma nova esteira de conteúdo. Ainda é muito hipotético o sucesso desse tipo de iniciativa”, completou.

Romariz aponta um novo modelo de negócios. “Tem duas questões aí: a assinatura com propagandas é uma tendência e a parte de conteúdo. Antes a Netflix tinha um equilíbrio entre quantidade e qualidade, você tinha uma quantidade absurdas de coisas ali dentro, que eram uma mistura de originais, com um catálogo do mundo todo. Hoje, todos os outros estúdios já têm os seus direitos de volta e a Netflix precisa investir em seus originais. O interessante é a localização que ela tem em relação aos originais e é isso que a torna tão grande”, finalizou. 

Os anúncios, de acordo com Butcher, entretanto, serão um grande desafio para a empresa. “Você aceitar uma assinatura mais barata, veiculando conteúdo publicitário, impõe uma reestruturação da empresa, precisa ter um departamento de vendas, vai ter também uma demanda dos anunciantes de terem uma métrica de suas publicidades, que é uma questão para a Netflix, que divulga muito pouco sobre seus números. É uma coisa complexa de se fazer de se fazer de uma hora para outra”, opinaram. 

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