Amor sem regra: conheça pais que adotaram PCD e adolescentes

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Foi em uma sexta-feira de janeiro que a professora Taicy Ávila, de 46 anos, finalmente recebeu permissão para conhecer o filho em uma casa acolhedora no Distrito Federal. Chegando ao local, foi perguntado a ela e ao marido se eles gostariam de pensar melhor sobre o fato de adotar Samuel, um bebê com paralisia cerebral e má-formação congênita, em decorrência da pré-maturidade extrema. Emocionados e sem pensar duas vezes, o casal declarou firmemente: “Não precisamos pensar em nada, encontramos o nosso filho”. Histórias como as da família de Taicy ajudam a chamar a atenção para o tema importante, embora estigmatizado, que é a adoção, comemorada nacionalmente nesta quarta-feira (25/5).

Taicy e o marido, Roberto Veríssimo Costa, de 44 anos, sempre sonharam em ter dois filhos. Depois de gestar Cauã Francisco, de 13 anos, entraram na fila de adoção para adotar o segundo filho. Durante o processo, decidiram que gostariam de ter uma criança mais nova que o primogênito, para que ele não perdesse o “cargo” de mais velho. Essa, na verdade, foi a única ressalva que fizeram. Por isso, em pouco menos de um ano, receberam a tão sonhada ligação para conhecerem o novo membro da família.

“Na gravidez a gente não pode escolher nada. Não podemos escolher se será um menino ou menina. Se tem ou não algum problema de saúde. Então, não vimos sentido fazer esse tipo de escolha na adoção”, afirmou Taicy.


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Quase de imediato, o casal foi avisado de que Samuel enfrentaria problemas no decorrer da vida, mas em nenhum momento isso se tornou empecilho para a família. Eles apenas sonhavam em ter o pequeno em casa. “Em nosso lar, e com interação de mãe e filho, percebi que o Samuel se desenvolveria muito mais do que me foi informado. Buscamos mais atendimentos para ele e os avanços que teve surpreende a todos até hoje”, declarou a mulher.

“Hoje, com 6 anos, o meu filho estuda, canta, reconta as histórias que leio para ele, tudo do jeitinho dele. Fico muito feliz de falar em adoção para desmistificar o processo para quem desconhece. Crianças que estão nessa condição já sofreram demais, principalmente crianças com deficiência que dificilmente são adotadas. Por esse motivo, é importante deixar claro que elas também são felizes e trazem felicidade para suas famílias”, disse.

Adoção no Distrito Federal

No DF, cerca de 365 pessoas buscam por um filho adotivo, mesmo assim, abrigos seguem lotados com dezenas de crianças e adolescentes esperando por um lar. Isso acontece porque a maior parte dos candidatos à adoção procura crianças saudáveis e de até 4 anos.

Na capital, 387 menores estão em casas acolhedoras, sendo 44 aptas para adoção, segundo o Conselho Nacional de Justiça. Destas, 38 têm mais de 5 anos, o que equivale a 86% das crianças que aguardam uma vaga para reconstruir suas vidas.

Apenas 2% das crianças e adolescentes disponíveis têm menos que 4 anos, o que torna a espera demorada e sofrida. É aí que a conta não fecha. A procura e a demanda seguem desproporcionalmente crescentes.


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Apesar de tudo, ainda há pessoas que resolveram não esperar tanto, abriram o leque de opções, passaram por cima de preconceitos e optaram por vida nova praticando a adoção tardia, como é o caso da secretária-executiva Adriane de Souza, de 39 anos.

Ainda na infância, Adriane decidiu que um dia adotaria seu filho. Ao chegar à vida adulta, no entanto, foi surpreendida pelo que o destino havia lhe reservado. A mulher, que sonhava em adotar apenas uma criança com pouca idade, se apaixonou por irmãos, de 15 e 4 anos. Após ver fotos de ambos em um grupo do WhatsApp, destinado a pessoas aptas a adoção, a brasiliense se encantou. “Eles mudaram a minha vida”, disse a secretária ao Metrópoles.

“No momento em que vi os meus filhos no celular, não sei explicar a conexão que senti. Conversei com o meu marido, entramos em contato com os responsáveis pelos processos das crianças e informamos que tínhamos interesse em conhecê-las. A realidade deles, contudo, nos fez pensar sobre as dificuldades que uma criança acolhida enfrenta. Minha filha, ainda novinha, era responsável por cuidar do irmão, sem ter alguém para cuidar dela na infância. O sentimento foi de querer dar a ela a oportunidade de ser criança, de ser cuidada. Nesse momento, começamos a pensar em uma filha adolescente”, explicou Adriane.

Logo em seguida, o casal deu início ao processo de adoção das crianças, que poderiam ser separadas se não encontrassem uma família, e passou a conversar com os pequenos pela internet. Em uma tarde, enquanto assistiam TV, receberam vídeo das crianças informando que aceitavam tê-los como pais. “Ficamos tão emocionados que contamos para todo mundo sobre a nossa decisão. Contudo, nesse meio tempo, houve uma mudança de juízes que retardou o processo. Angustiados, resolvemos arrumar as malas para ver os nossos filhos. Quando chegamos, com a autorização da coordenadora da casa acolhedora, meu filho nos chamou de mamãe e papai. Foi um dia muito especial”, contou Adriane, que recebeu a guarda temporária das crianças e, atualmente, aguarda a sentença de adoção para a guarda definitiva.

“Adotar não é caridade, adotar é reencontro”

À reportagem, o diretor artístico Wesley Messias, de 42 anos, contou que sempre soube que seria pai através da adoção. Segundo o homem, a confirmação veio após ele ter participado de um grupo de apadrinhamento afetivo da ONG Aconchego, momento em que deu entrada no processo de adoção para, finalmente, ser um pai.

“É importante saber que o seu filho pode vir de formas diferentes do que a biológica. Filho é filho e ponto final. Não tenham medo de adotar crianças maiores de idade, pois são crianças da mesma forma. Elas têm sentimentos, sonhos, dores e, acima de tudo, história como todos os seres. Adotar não é caridade, adotar é reencontro”, disse o diretor artístico.

Wesley é pai de Isaque, de 10 anos, e de Kauã, de 18 anos. Ao Metrópoles, os filhos dele disseram que, finalmente, se sentem completos e definem a adoção como uma chance de terem a vida modificada.

“Acredito que o termo adoção pode ser definida como tudo um pouco. Nunca tive experiência de ter um pai. Para mim foi tudo muito novo. Hoje tenho carinho, amor e me sinto acolhido. A adoção pode mudar vidas, não só a da criança, mas também de toda a família”, disse Kauã.


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Segundo a assistente social Mariuza Barbosa, de 59 anos, integrante da ONG Aconchego, é necessário falar sobre o tema para que mais pessoas entendam a importância da adoção e para que todo tipo de preconceito seja superado. “A adoção é um caminho possível e muito necessário para crianças e adolescentes que estão em instituição de acolhimento. Apesar de ser um tema que ainda enfrenta muitos preconceitos e estereótipos, trazer à tona mais sobre ele é necessário para que as pessoas vejam que na adoção há uma via de parentalidade tão digna e tão linda quanto na biológica”, ressaltou a assistente social.


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