José Trajano: “Lula certamente ganharia as eleições”

    0
    142

    Dono de voz tonitruante inconfundível e força pessoal magnética, José Trajano não deve nada a ninguém. Aos 71 anos, o experiente jornalista esportivo que começou a carreira aos 16 anos, no Jornal do Brasil, em 1963, agora se aventura pelos caminhos da literatura – embora admita não ser lá um escritor na essência da palavra.

    “Na verdade, eu nunca pensei escrever nada, mas acho que sou um bom contador de histórias”, desconversa, em entrevista ao Metrópoles.

    Não é bem assim. Polêmico e autêntico, defensor de posições política que lhe custaram, talvez, a cabeça no canal ESPN em 2016 – do qual foi um dos fundadores – Trajano, que se diz brizolista e defensor do ex-presidente Lula, é um bom amigo das palavras. Prova disso é o formidável e tocante livro, Os Beneditinos, que encerra trilogia de memórias afetivas iniciada em 2014 com Procurando Mônica e Tijucamérica (2015).

    Divulgação

    Os Beneditinos: José Trajano. Cia das Letras, 34,90, 152 páginas.

     

    “Pela ordem cronológica, Os Beneditinos tinha que ser o primeiro porque foi o colégio onde estudei o primário e o ginásio”, observa. “Gozado que a repercussão desse livro foi maior, sinto isso quando encontro as pessoas nas rua. É outro tipo de retorno, não tem nada a ver com o fato de você ter trabalhado na televisão ou num blog, é algo mais dirigido”,completa o autor.

    Ponto a ponto com José Trajano

    Sobre os livros
    Eu nunca pensei escrever nada. Escrevi o primeiro, “Procurando Mônica”, porque eu contava a história para todo mundo e eles diziam: “Pô, tem que botar isso num livro”. Aí eu fui lá e fiz e a Companhia das Letras, por meio do Matinas (Suzuki Jr.), que conheço há muitos anos, achou legal e publicou.

    Novo projeto
    Eles não leram ainda porque agora vai ter a Flip, Bienal… é um livro que não deu muito trabalho, foi rápido de fazer. A história É uma história acontece entre 1930 a 1960. Começa lá no pré-Estado Novo de Getúlio, passando pelo integralismo e as copas deste período. Faço o retrato da política e do futebol brasileiros por meio de um personagem meio Forrest Gump. Tudo passa pelo lugar onde ele vive, que é Rio das Flores (onde Trajano passou a infância).

    Michael Regan - FIFA/FIFA via Getty Images

    Trajano diz que Tite é endeusado, mas teve o mesmo desempenho de Dunga

     

    Seleção da Copa
    A Seleção saiu daqui toda cheia de si, como há muito tempo não acontecia, depois que o Tite entrou e classificou o time com facilidade, ganhando moral, imprensa enchendo a bola dele, da comissão técnica, dos jogadores. O time foi para Copa para o Tite virar um Deus e Neymar, o melhor jogador do mundo. Esse era o plano, mas nosso treinador tomou um baile tático da Bélgica – e hoje em dia dizer que não esperava isso com analista de desempenho, de seleções, de vídeos e não sei o quê, ser surpreendido – é brincadeira…

    “O Brasil só ganha de galinha morta”
    O Brasil nos últimos tempos só tem vencido seleção ruim. Quando pega um time bom, não consegue ir à frente. Nos últimos tempos tem caído nas quartas-de-final. Foi eliminado pela França (2006), Holanda (2010) e Bélgica (2018). Todos na mesma fase. Então, o Brasil só ganha de galinha morta, Costa Rica, empata com a Suíça, temos que repensar esse futebol. Temos bons jogadores, mas fracassamos novamente. Se você comparar a Seleção do Tite com a do Dunga, o desempenho foi o mesmo.

    AgNews

    “Neymar é uma piada mundial”, diz Trajano

     

    Neymar
    O Neymar foi aquilo que a gente viu, não jogou tudo que podia, falseou, virou meme e piada no mundo inteiro. Quer dizer, era para dar tudo certo e deu tudo errado.

    Mudou o futebol ou mudaram os craques?
    Mudou o mundo. As redes sociais formaram a humanidade. As pessoas se expõem e se exibem de um jeito que não acontecia. Antigamente passava telex, depois fax, para fazer um telefonema do Rio de Janeiro para São Paulo, quando eu era garoto, levava seis horas. Hoje, é a espontaneidade, as redes sociais modificaram o comportamento, as pessoas são muito vaidosas. O que os grandes jogadores ganharam no passado não chega aos pés de atletas mais ou menos da atualidade. Muito cara da elite, que não é tão bom assim, ganha milhões de vezes mais do que o Gerson, o Rivelino e  o Tostão. Menos o Pelé que é uma coisa excepcional…

    Um Fla x Flu ideológico
    Esse mundo agora corre um dinheiro absurdo, o negócio do futebol, as grandes empresas de material esportivo, a utilização do ídolo, vendendo camisa para Ásia… Ficou uma coisa meio insuportável. Viver é ótimo, conviver é ótimo, mas as redes sociais estão transformando as relações das pessoas num inferno. Estamos vivendo um Fla x Flu ideológico, você não pode falar nada que nego vem em cima cheio de ódio.

    No futebol isso acontece também, quer dizer, a vaidade… Pode o Neymar levar dois cabeleireiros para a Copa? É inacreditável!. Porque o cara quer se expor, se exibir. Não bastar ele jogar bem e ser o melhor do mundo. Tem que mostrar a roupa, a bolsa dourada, o tênis, o avião, o iate… é foda.

    Daniel Ferreira/Metrópoles

    Para o jornalista, Lula ganharia as eleições de 2018 caso virasse candidato

     

    Encontro com Pelé
    Entrei para o jornal com 16 anos, sem fazer faculdade. Na época, o Santos foi ao Rio jogar e o repórter Oldemário Touguinhó ia se encontrar com o Pelé no Hotel Novo Mundo (localizado na Praia do Flamengo). Então, quando me vi diante do Pelé, que também era um jovem, foi um baque para mim. Ele já era o bam bam, queridíssimo, bicampeão do mundo, talvez tenha sido o encontro mais importante da minha vida, estar cara a cara, podendo falar com ele…

    Eleições
    Tenho muita tristeza, porque o Lula, que é o favorito e ganharia certamente as eleições, dificilmente vai ser candidato porque tudo é negado a ele. Eu não acredito que ele possa ser candidato. Também não acredito que o candidato que ele vá apoiar ganhe, pois essa passagem de voto é difícil.

    Será uma eleição de terceira categoria em termos de nomes. Como eu conheci muito o Brizola, o Darcy (Ribeiro), fico pensando como eles fazem faltam. Você ter uma disputa com Bolsonaro indo para o 2º turno e, desse jeito odiento e absurdo que ele é, com a Marina, uma mosca morta, com o Ciro, arrogante e prepotente, e com o Alckmin, um picolé de chuchu, é uma tristeza.

    Acho ainda que o Congresso [Nacional] vai piorar porque tem bancada da bola, da bala, evangélica e ruralista. Todas com dinheiro e poder.

    Artigo anteriorBombeiros atendem a duas ocorrências de incêndio em veículo neste sábado
    Próximo artigoCorpo de Bombeiros atendem acidentes durante a madrugada