Filmes da Netflix: Negação (parte1 de 2)

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Filmes da Netflix: Negação (parte1 de 2)
Rachel Weisz vive a historiadora Deborah Lipstadt. Crédito da foto: Divulgação

Nildo Benedetti – [email protected]

Devido à pandemia do coronavírus, as sessões de cinema do Cine Reflexão, na Fundec, foram temporariamente suspensas. Para manter a continuidade desta coluna, passarei a partir de hoje a escrever sobre filmes que fazem parte do acervo da Netflix.

Começarei com “Negação”, filme de 2016 do diretor britânico Mick Jackson.

O filme é baseado no livro “Negação”, de Deborah Lipstadt. Narra a batalha judicial envolvendo David Irving de um lado e, de outro, a editora Penguin Books e a historiadora americana Deborah Lipstadt.

Irving, cujos livros com frequência ofereciam um relato da Segunda Guerra Mundial simpático ao nazismo, processou Lipstadt na Alta Corte de Londres, alegando que ela, em seu livro “Negando o Holocausto”, apresentava-o como negacionista do Holocausto e que o livro havia afetado sua reputação. Lipstadt havia escrito sobre Irving coisas como “partidário de Hitler usando cabresto”.

No processo, a defesa de Lipstadt não se ocupou de demonstrar a existência do Holocausto, mas em demonstrar que, em seus livros, Irving havia distorcido deliberadamente as evidências da existência do Holocausto e que o antissemitismo contaminava sua honestidade como historiador.

Para ajudar o leitor a ter uma visão mais completa e crítica do filme, farei abaixo algumas poucas observações, apoiado em autores de comprovada relevância acadêmica, que se ocuparam de escrever sobre o extermínio em massa de judeus durante o nazismo.

No seu livro “Negação”, a autora defende a noção de que os historiadores tentam estabelecer a “verdade” histórica determinando objetivamente o que aconteceu; consideram o contexto e as circunstâncias de um dado acontecimento ou documento; interpretam indícios e apresentam suas opiniões, sempre cientes de que outros historiadores podem olhar para o mesmo material e, sem serem vítimas de qualquer engano, chegar a conclusões distintas.

Os historiadores também sabem que, conforme novas fontes de documentos surgem, algumas “verdades” podem ficar ultrapassadas. Afirma também que, embora “muitas coisas relacionadas ao Holocausto estejam abertas a debate, a existência do fato não é uma delas”.

O parágrafo acima indica que a autora considera normais divergências sobre o discurso vigente sobre o Holocausto, desde que sejam fruto de pesquisas sérias. Discordar de alguns aspectos desse discurso, sem negá-lo, nada tem a ver com antissemitismo.

Segundo Lipstadt, nem todo genocídio, por mais terrível que ele possa ser, deve ser chamado de Holocausto, porque “o Holocausto tem alguns elementos únicos, que o distingue dos demais genocídios”.

Essa posição da autora, de que o caso dos judeus é singular, é uma das que recebe críticas de parte de historiadores, incluindo judeus, porque significa ignorar a morte de milhões de vítimas da ideologia nazista, entre as quais estavam deficientes físicos e mentais (que foram os primeiros a ser eliminados), comunistas, ciganos, liberais etc., ou seja, os que deveriam, juntamente com os judeus, ser exterminados para realizar a utopia de Hitler, a do florescimento que uma nova civilização.

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