Eram 21h30 de um sábado. Uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) bateu de frente com um Fiat Tempra. Quatro pessoas morreram no local, e outras quatro foram levadas para o pronto-socorro. A colisão também tirou a vida da passageira que era levada ao hospital. O desastre ocorreu justamente no lugar e na hora mais críticos para os acidentes no Distrito Federal. A DF- 001, Estrada Parque Contorno, é um anel viário que circunda Brasília, a bacia hidrográfica do Paranoá, o Parque Nacional e o Jardim Botânico, num percurso de 130 quilômetros. Em 2011, a pista pode ser chamada de rodovia da morte. Foi campeã de acidentes fatais. Entre janeiro e dezembro, houve 42 desastres.
Na DF-001, ocorreu uma das mais trágicas capotagens do ano, que provocou a morte de cinco estudantes de pedagogia a caminho da faculdade, no último sábado de maio. A história foi contada pelo Correio na edição de ontem. Em tragédias, a rodovia pode ser comparada à BR-020, que liga Brasília a Fortaleza. No DF, a estrada foi cenário de 31 acidentes com mortes. O drama da professora Vânia Borges de Carvalho aconteceu nessa rodovia, num trecho a 300 quilômetros de Brasília, próximo a Posse (GO), como relata o jornal na página 23. A Zafira dirigida pelo marido de Vânia, Raimundo Jarismar Moreira de Carvalho, foi atingida por um Voyage ao parar em um retorno. O mato estava alto. Não havia lombadas. Pouca visibilidade.
Um estudo do Departamento de Trânsito (Detran) mostra que as histórias tristes seguem uma rotina. A maioria dos acidentes na capital ocorre entre as 18 horas e a meia-noite. O horário de pico das mortes no asfalto é às 21h. Em 2011, dos 395 acidentes fatais, 35 ocorreram nesse intervalo. O fim de semana, quando as pessoas estão relaxadas e saem para se divertir, é o momento mais crítico. Os sábados e os domingos de 2011 registraram 44% desse tipo de colisão. Para especialistas, os principais motivos são o abuso no consumo de álcool e a alta velocidade.
Tipos de acidentes
Numa frota com 1,2 milhão de veículos, o que mais matou no trânsito do DF foram as batidas entre os carros. Em 2011, houve 153 ocorrências do tipo. No ranking, ocorreram 119 atropelamentos e 53 capotagens ou automóveis tombados. Foi uma colisão frontal o tipo de ocorrência que matou na hora o pequeno Pedro Henrique, 2 anos, na DF-180.
O menino estava no colo de uma adolescente, sem o cinto de segurança, quando o carro dirigido por Manoel de Sousa Santos acertou um outro veículo parado no caminho para Samambaia. Jaciara Santos estava no carro. Era quem cuidava do pequeno Pedro Henrique, enquanto a mãe da criança trabalhava. “Cuidava dele como se fosse o meu filho. Me chamava de mãezinha”, contou a mulher. As duas filhas biológicas de Jaciara também estavam no carro, mas não tiveram ferimentos graves. O irmão dela, Nilton, não resistiu. Voou longe. Quando foi resgatado, já estava morto, sem bermuda. Foi horrível ver o meu irmão daquele jeito”, descreveu Jaciara.
O Distrito Federal é a 11ª unidade da Federação no ranking de mortes no trânsito. De acordo com dados de uma pesquisa do Ministério da Justiça divulgados neste ano, a capital brasileira registrou em 2008 (último ano do levantamento) uma taxa de 24,1 mortos a cada 100 mil habitantes. O DF está na frente de estados como Minas Gerais (20,2), São Paulo (18,3), Rio Grande do Sul (18,5), Rio de Janeiro (16,5) e Bahia (12).
Nessa comparação, os 10 estados que mais registram acidentes com mortes são: Tocantins (35,6), Mato Grosso (35,5), Espírito Santo (31), Santa Catarina (30,6), Mato Grosso do Sul (30,5), Paranoá (30,4), Rondônia (30,3), Roraima (29,3), Goiás (27,6) e Piauí (26,7). O estudo leva em conta o número de óbitos em proporção ao número de habitantes. Dessa forma, a situação do DF é ruim. Mas técnicos do Detran explicam que o cálculo na capital federal é mais criterioso do que em outros locais. “Conta-se como óbito não apenas a morte no momento do acidente, mas aquela registrada até 30 dias após a internação”, diz a Ana Paula Pacheco, gerente do Núcleo de Estatísticas do Detran.
Motos
Entre os 42 acidentes trágicos registrados na DF-001, 11 envolveram motos. Na BR-020, houve sete colisões fatais com motociclistas. Taguatinga e Ceilândia foram as cidades com o maior número de mortes. Houve sete em cada. Em seguida, aparecem Brasília e Santa Maria, ambas com quatro. Mesmo assim, não houve aumento nas ocorrências desse tipo de desastre em 2011. Em 2010, foram 131. Neste ano, até outubro, 99.