Se no fim da década de 1970, nomes como Chiquinha Gonzaga, Pixinguinha e Jacob do Bandolim eram os únicos a ecoar pelo Clube do Choro, hoje a situação é outra. Rock, samba, MPB e jazz: a atual diversidade musical da programação reflete no rejuvenescimento do tradicional centro cultural projetado por Oscar Niemeyer – que completa, em 2019, 42 anos de atividades.
De acordo com o responsável pela curadoria artística, Reco do Bandolim, a intenção do novo roteiro de shows é, sobretudo, manter as portas da casa abertas a artistas de outros estilos que sofrem com a falta de oportunidades na capital federal.
“A nossa matéria-prima é a música instrumental e nós não abrimos mão disso. Ainda assim, como Brasília carece de espaços, é também nossa obrigação receber pessoas de todos e quaisquer gêneros musicais. É dessa maneira que contribuímos para o desenvolvimento da cultura do DF”, afirma o presidente do Clube do Choro.
Clube do Choro se abre ao samba e ao rock para atrair novas gerações

Clube do Choro se abre ao samba e ao rock para atrair novas gerações
7 FOTOS
Brasília (DF), /00/2017 – – Foto: Giovanna Bembom/Metrópoles
Henrique Filho, o Reco do Bandolim, tem investido na popularização do Clube do Choro com programação diversa e atrativa a pessoas de todas as idades
Giovanna Bembom/Metrópoles
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Os roqueiros da banda Judas são figuras frequentes do Clube do Choro
Patrícia Soransso/Divulgação
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Adalberto Rabelo (foto), vocalista da banda Judas, adiantou que voltará ao templo dos chorões em breve para lançar o novo trabalho do grupo: Os Desencantos
Paula Cinquetti/Divulgação
Clube do Choro
Gabriel Carneiro, 34 anos, dá aula de pandeiro há sete. Antes de ser professor, foi aluno da Escola Brasileira de Choro Raphael Rabello por um ano
JP Rodrigues/Divulgação
Clube do Choro
Já George Costa, também de 34 anos, dá aula há seis e estudou durante três na Escola Brasileira de Choro Raphael Rabello
JP Rodrigues/Divulgação
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Idealizador da roda Nosso Quintal, Fernando César é figura conhecida dos palcos da capital federal. Ao lado do irmão, Hamilton de Holanda, rodou o país com o grupo Dois de Ouro
Rafael Macário/Divulgação
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Thanise Silva, flautista do grupo Nosso quintal, vê com bons olhos a diversificação da programação, desde que a curadoria foque em projetos de cunho artísticos e não comerciais
Maíra de Deus Brito/Divulgação
Em maio, a apresentação da banda Judas no templo dos chorões da cidade, para o lançamento do EP Matadouro Nº 5, surpreendeu os frequentadores. Formado por Adalberto Rabelo Filho (voz), Pedro Vaz (viola caipira), Hélio Miranda (bateria), Carlos Beleza (guitarra) e Bruno Prieto (baixo) – que substitui o falecido integrante Pedro Souto –, o grupo mistura a linguagem pop rock e radiofônica com instrumentos como a viola caipira. “Nesses últimos anos houve uma redução de palcos muito significativa em Brasília e tocar em um local tão relevante quanto o Clube do Choro foi uma honra para nós”, ressalta o vocalista.
Para Rabelo Filho, tocar no centro cultural é uma experiência completamente diferente das que os músicos já vivenciaram em bares ou locais abertos. “Por lá ter uma estrutura de teatro, onde as pessoas curtem o show sentadas, parece que elas prestam atenção de uma forma diferente na letra, no instrumental…”, analisa o artista, que já negocia com Reco a volta ao Clube.
“Queremos fazer o lançamento do nosso novo disco lá”, adianta. A obra, intitulada Os Desencantos, contará com 10 faixas autorais, já testadas com os fãs durante a divulgação da trilogia de EPs composta pelos álbuns Casa de Tolerância Nº 1, Enfermaria Nº 6 e Matadouro Nº 5.

Pratas da casa
Nascido e criado em Brasília, o violonista e professor da Escola Brasileira de Choro Raphael Rabello George Costa, 34 anos, vê com bons olhos a abertura do Clube do Choro para outros ritmos. “Com a atual situação imposta pela Lei do Silêncio, é muito importante que esse palco resista e não se restrinja. O clube sempre teve esse comportamento agregador, de receber novas ideias e assimilar novos gêneros. No fim das contas, ele também acaba bebendo dessa energia, dessa fonte”, considerou o instrumentista, em entrevista ao Metrópoles.
Para Gabriel Carneiro, 34, professor de pandeiro da Escola Raphael Rabello, a renovação na programação faz bem não só ao clube, mas também à cidade. Segundo ele, nos shows que realiza com o grupo Estação do Choro, do qual George também faz parte, é possível perceber um público muito mais diverso. “Esse rejuvenescimento aproxima gerações. Nós vemos pessoas de 70 anos sentadas ao lado de adolescentes de 15, e eles estão ali convivendo”, pontua.

Nosso Quintal
Idealizado por Fernando César – figura conhecida dos brasilienses pela parceria com o irmão bandolinista Hamilton de Holanda, no grupo Dois de Ouro –, a roda de samba Nosso Quintal rompeu um paradigma no Clube do Choro. Pela primeira vez, ao menos desde a inauguração da nova sede, em 2011, os artistas desceram do palco e levaram o show para perto do público.
Na apresentação, os músicos, inspirados nos encontros na casa de Tia Ciata (importante liderança negra e matriarca do samba), relembram clássicos do samba e do choro, com repertório composto por canções de Ernesto Nazareth, Dona Ivone Lara e Paulinho da Viola, entre outros.
“As rodas de samba e choro não são uma novidade. São manifestações que deram origem a muito da nossa identidade cultural. O frisson do Nosso Quintal está mais no resgate dessa cultura dentro do Clube do Choro. E estamos muito felizes com a resposta tão positiva da plateia”, explica Fernando César, que acentua a importância da programação mais diversificada do espaço projetado por Oscar Niemeyer. Segundo ele, se o governo não cumpre o seu papel de garantir e incentivar a produção cultural local, os artistas tendem a se virar. “Mas não é o ideal, na maioria das vezes ficamos de mãos atadas”, acredita.
A flautista Thanise Silva, 30 anos, integrante da roda Nosso Quintal, acredita que abrir as portas do Clube do Choro para novos públicos é essencial, mas pontua que os projetos têm de ter caráter autoral. “Como musicista, acho importante o investimento de casas como esta em programação de cunho artístico em primeiro lugar, considerando que já existe espaço e investimento destinados à música comercial. Vejo que essa é a grande prioridade do Clube do Choro”, completa.
Além de Fernando César (violão e direção musical) e Thanise Silva (flauta), o Nosso Quintal conta, ainda, com Vinícius Magalhães (violão), Pedro Vasconcellos (cavaquinho), Valerinho Xavier (percussão e voz) e Larissa Umaytá (percussão e voz). “Já estamos conversando com o pessoal do Clube para marcarmos a próxima edição do Nosso Quintal. O sucesso do projeto nos motivou a levar o formato para outros palcos e rodar o país”, conclui César.
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