A reportagem do Cruzeiro do Sul viajou em duas linhas da zona norte na última sexta-feira, último dia útil de operação dessas linhas pelo sistema tradicional, pela manhã e no fim de tarde, nos dois sentidos, centro-bairro e vice-versa.
Nesta segunda-feira (31), primeiro dia útil de funcionamento do BRT nessas mesmas linhas, os repórteres Wesley Gonsalves e Marcel Scinocca refizeram o trajeto, já com os novos ônibus articulados do novo sistema de transporte.
Veja as primeiras impressões sobre o que melhorou e o que ainda precisa ser aperfeiçoado na opinião de usuários e até de motoristas.
Vitória Régia 2, ida e volta
No último dia útil antes da inauguração do sistema Bus Rapid Transit (BRT) Sorocaba, na sexta-feira 28 de agosto, a reportagem percorreu todo o trajeto da linha 58 (Vitória Régia 2), que liga o Centro à zona norte.
Saindo do Terminal Santo Antônio rumo ao bairro, a reportagem analisou o modelo de transporte antigo para compará-lo ao novo modal de mobilidade urbana.
Como de costume, na manhã de sexta-feira, às 6h45, o ônibus com pouco mais de 10 passageiros deixava a plataforma S do terminal para percorrer o sentido centro-bairro.
Ritmo acelerado
Outros usuários embarcavam ao longo das vias percorridas. A viagem, que durou aproximadamente 35 minutos, teve 20 paradas até finalizar seu percurso na rua Francisco Siedler, no Vitória Régia.
Apesar da viagem tranquila na ida, o motorista Oswaldo Honorato, 57 anos, não pode desligar o veículo e descansar no ponto final.
Às 7h21, ele já estava cinco minutos “atrasado” para a partida.
No trajeto oposto, retornando ao Terminal Santo Antônio, o coletivo realizou exatas 28 paradas, onde inúmeros usuários adentravam o veículo.
Os 42 bancos do coletivo tradicional foram preenchidos antes mesmo do veículo chegar à avenida Itavuvu.
A viagem na hora do “rush” matinal durou 51 minutos cronometrados.
Ao todo, a reportagem percorreu 25 quilômetros do caminho feito diariamente por centenas de moradores do Vitória Régia.
Quase 1h e 30 minutos
A ida e volta durou em média 1h e 25 minutos.
Ainda na sexta-feira, o mesmo trajeto foi realizado no início da noite, momento em que parte da população deixa o trabalho e utiliza o transporte público para voltar para casa.
Às 17h45, o ônibus do Vitória Régia 2 partia novamente rumo ao bairro.
Foram necessários 46 minutos para percorrer os 12,5 quilômetros que separam o terminal urbano do ponto final da linha.
Dessa vez, a condução também precisou parar em todos os pontos de ônibus, para que os passageiros fossem desembarcando.
Após o último desembarque, o motorista Flávio Souza, 34 anos, partiu do bairro às 18h33 para o Terminal Santo Antônio.
Diante da quantidade menor de passageiros e trânsito mais ameno, o retorno durou 42 minutos, totalizando 1 hora e 28 minutos de viagem, entre as duas regiões naquele que ficará conhecido como o sistema antigo de transporte público da cidade. (Wesley Gonsalves)
Erros técnicos, falhas e atrasos
O primeiro dia útil de operação do eixo norte do BRT Sorocaba, ontem 31 de agosto, foi marcado por uma série de erros técnicos, problemas no embarque e desembarque, atrasos nas linhas, catracas travadas e a falta de informação.
Os usuários do transporte público foram surpreendidos com as mudanças no itinerário e nos horários dos veículos que antes faziam o percurso do bairro ao Centro, mas a partir de agora precisam passar pelo novo Terminal Vitória Régia, na zona norte.
Assim como na sexta-feira (28), a reportagem voltou ao Terminal Santo Antônio para percorrer o trajeto da linha 58, dessa vez utilizando os veículos do ônibus rápido.
Com a mudança, as linhas Vitória Régia 2 e 3 foram integradas. Se comparadas às viagens do modelo antigo, o novo modal apresentou um aumento de até 84% no tempo de percurso.
A empresa que gerencia o BRT Sorocaba justificou a situação dizendo que o modal está em um “período natural de adaptação para os passageiros e para a empresa.”
Novo trajeto
Antes mesmo de iniciar o percurso, dezenas de usuários questionavam os motoristas e agentes de bordo por informações sobre o BRT. Logo pela manhã, parte da população, não sabia que a partir desta segunda-feira (31) seria realizada uma baldeação para continuar a viagem. Às 7h15, o veículo articulado de 23 metros deixou o Terminal Santo Antônio rumo ao Terminal Vitória Régia.
Apesar do “contrafluxo”, o ônibus rápido que seguia pela avenida Itavuvu, na zona norte, apresentava um novo transtorno ao usuário, o problema na abertura das portas da esquerda, que dão acesso as estações.
Na plataforma do Santa Cecília, um funcionário da empresa de transporte abria com as mãos as portas, que deveriam ser acionadas automaticamente.
A onda verde que deveria sincronizar os semáforos e diminuir o tempo de viagem, pelo menos no primeiro dia, não aconteceu.
Foram necessários 46 minutos para realizar o trecho da viagem até o terminal. A espera pelo ônibus que seguiria o percurso já dentro do bairro foi de 32 minutos, totalizando apenas na ida 1h31.
Durante o período de espera pelo circular, era possível notar as pessoas que desembarcavam perdidas, sem conhecimento de qual seria o próximo passo até o destino final.
Às 8h45, ônibus partia do ponto final na rua Francisco Siedler. A viagem de volta durou 1h06.
Como o novo sistema de transporte, para percorrer os mesmos 25 quilômetros, foram necessários 2h37, uma viagem 84% mais longa que o mesmo percurso feito na sexta-feira.
Ajustes
De acordo com a Concessionária BRT Sorocaba, o início das operações com maior fluxo de público serviu para avaliar as falhas e ajustá-las ao longo do dia. No segundo trajeto desta segunda-feira (31), no período noturno, a empresa havia realizado alguns ajustes.
Às 17h30, o articulado seguia rumo ao Vitória Régia. Chegando ao novo terminal, o tempo de espera pelo próximo veículo caiu de 32 para cinco minutos.
Ao todo, a viagem teve duração de 1h08. Ligeiramente mais longo, o percurso de retorno do bairro ao Centro, durou 1h10.
O carro em que estava a reportagem deveria seguir para o terminal central, mas teve a rota alterada novamente para o Vitória Régia, por conta do início de uma manifestação de usuários insatisfeitos a espera.
Para trafegar pelos 25 quilômetros, o BRT demorou 2h18 entre terminais e estações, um aumento de 56% se comparado à sexta-feira.
Ônibus só lota no período de aulas
O primeiro dia útil de funcionamento do sistema BRT aumentou o tempo do percurso da antiga linha Vitória Régia 3 em quase 50%. Foram quase seis horas nos veículos dessa linha, além de mais de 100 quilômetros rodados.
O percurso foi feito em dois períodos. Na manhã de sexta-feira (28), antes do início das operações do BRT, sair do Terminal Santo Antônio com destino ao usuário da linha Vitória Régia 3 custou ao usuário 30 minutos e 56 segundos até o ponto final, na rua Vitório Scabia.
Foram 14 paradas. A partida ocorreu, às 7h04. No percurso, conduzido pelo motorista Aroldo Silva, com 26 anos de transporte coletivo, sendo 22 somente na linha, poucos problemas, a não ser os cruzamentos perigosos, como na rua José Martinez Peres, e a preocupação constante com o horário. A volta ao Centro foi de quase 41 minutos. O itinerário teve 25 paradas.
Durante a tarde, a ida ao bairro, conduzida pelo motorista Fernando Alves, aumentou para 40 minutos e 52 segundos.
Houve paradas em praticamente todos os pontos. Foram 26 no total. A volta foi de 35 minutos e 27 segundos, com 15 paradas. A expectativa pelo início da operação era grande.
Na sexta-feira, em todas as movimentações acompanhadas pela reportagem, não houve superlotação nos veículos. “Mas não é todo dia assim. Quando tem aula sempre lota e não sobra lugar”, comenta outro usuário.
Sistema ganha críticas e elogios
Passageiros precisam ser melhor orientados nas estações. Crédito da foto: Fábio Rogério (30/8/2020)
Nesta segunda-feira (31), quando começou a funcionar o BRT em seu primeiro dia útil houve aumento no tempo do trajeto. A ida ao bairro, na segunda-feira de manhã, subiu para 44 minutos e 19 segundos. Aumento de 44,6%.
A volta demorou quase uma hora. Aumento de 36%. Na segunda-feira, com o BRT, à tarde, o percurso de ida foi de 50 minutos — aumento de 23,6%. A volta ao Centro foi de 46 minutos, com aumento de 32% no tempo.
Um dos problemas notados pela reportagem está justamente na inclusão no itinerário do terminal de integração, que fica no bairro Vitória Régia.
Mesmo quando não ocorre baldeação, o trecho inclui obrigatoriamente a parada no local, o que acaba esticando o tempo de viagem.
Na primeira parada no local, foram mais de 13 minutos dentro da unidade. Ao retornar ao Terminal Santo Antônio, ainda na manhã de sexta-feira, houve redução e o tempo da parada foi de 7 minutos e13 segundos.
Falta de sinalização
À tarde, foram mais 4 minutos na ida e 6 minutos na volta, tudo dentro do terminal de integração. Na primeira viagem, pela manhã, o tempo parado se justificou pelo fato, conforme o motorista, da falta de sinalização ou indicação de onde ele deveria parar.
Além disso, no ponto final do Vitória Régia 3, outro problema identificado pelos motoristas: diversos galhos de árvores que deveriam ter sido aparados se chocam com o ar-condicionado dos veículos, que são mais altos que os que rodavam no itinerário até sábado (29). Dessa forma, os profissionais tinham dois caminhos: correr o risco de danificar o aparelho ou invadir a contramão.
É também dos motoristas outras reclamações. Uma delas diz respeito aos retrovisores internos dos veículos. Conforme dois dos motoristas, é impossível enxergar corretamente a movimentação de passageiros na última porta. “Isso pode dar um problema, gerar um acidente”, advertiu um deles.
Eles também citam a falta de sincronização dos semáforos com o sistema. Os motoristas são obrigados a parar em muitos deles, aumentando o tempo do percurso.
A manobra em alguns lugares é perigosa, apontam os profissionais. Um dos perigos está na estação que fica em frente ao Shopping Cidade. O risco é para quem precisa sair da avenida avenida Ulisses Guimarães para acessar a faixa exclusiva da Itavuvu.
Outro ponto considerado perigoso é para os ônibus maiores que somente transitam no corretor BRT. A situação ocorre na estação que fica em frente ao hipermercado Coop, no sentido Centro.
Durante o percurso foi possível identificar várias situações que mostram que muitas pessoas e motoristas de automóveis de passeio também não colaboram.
Riscos de acidentes
Em um dos episódios, uma mulher decide deixar o veículo e retornar à estação, quando a porta está se fechando. Assim, por pouco não ocorreu um acidente.
Já os veículos de passeio, entretanto, em muitos casos, ignoraram a presença do ônibus e cruzaram a faixa exclusiva.
Muitos usuários não gostaram do que viram. Caso da vendedora Evelin Renata. “Achei ruim porque ele fica parando e demora mais tempo para chegar”, reclama.
Assim como a vendedora, o técnico Geraldo de Paula também reclamou. “Hoje tenho que pegar três ônibus para ir para casa”.
Contudo, a reportagem também ouviu elogios dos usuários. Um dos mais contundentes foi da cuidadora Maria Aparecida Martins.
Conforme ela, o conforto dos ônibus e principalmente o tempo do percurso, que para ela, que não pegou no ponto final, foi menor que em outros dias. (Marcel Scinocca)
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