Rio de Janeiro – Sem dinheiro em caixa e com cortes orçamentários à vista, a reitoria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) teme a evolução das rachaduras nos prédios e alerta para riscos de incêndios. Ao Metrópoles, o vice-reitor da instituição, Carlos Frederico Leão Rocha, definiu a situação como preocupante.
De acordo com ele, o polo que concentra a maior quantidade de problemas é o que abriga a Reitoria da instituição, o Jorge Machado Moreira, na Cidade Universitária.
Leão Rocha afirma que os pilares que sustentam o prédio está com rachaduras em alguns dos blocos, além de precisar de uma reforma na parte elétrica do terceiro ao quinto andar. O edifício, que tem um histórico de incêndios, não conta com brigada de incêndio e só tem uma escadaria central.
“A experiência mostra que quando tem um incêndio, você pode ficar preso em uma das alas. Então, nós temos que, no longo prazo, resolver, arrumar rotas de fuga alternativas, no edifício cuja fachada é tombada”, ressalta.
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Vale lembrar que o prédio da Reitoria da UFRJ já foi vítima de incêndios que comprometeram parte de sua estrutura e aulas de cursos como a Escola de Belas Artes (EBA) e a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU). Em 2016, o oitavo andar do prédio foi destruído pelas chamas e até hoje possui parte considerável da estrutura isolada. Em abril do ano passado, parte do segundo andar também foi tomado pelo fogo.
Na mesma edificação, há vazamentos nos telhados e sofre com quedas de pastilhas e reboco da fachada.
A solução para os problemas, no entanto, não é simples. Com selo de tombamento pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), as reformas ficam mais caras e mais complexas. “Calculamos que a reforma apenas do prédio da Reitoria daria R$ 50 milhões. Hoje, temos R$ 11 milhões destinados ao Jorge Machado Moreira”, afirma.
Prédios necessitam de cuidados
Além do polo que abriga a Reitoria, o Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS), no Centro do Rio, também corre risco de incêndio e precisa de obras em sua estrutura, as quais, segundo o vice-reitor, a universidade também não tem como arcar no momento. Os problemas comprometem o retorno às aulas presenciais nesses dois prédios.
“O IFCS tem sérios problemas nas instalações hidráulicas e elétricas. Estamos nos movimentando, mas faltam recursos. Isso tudo afeta a qualidade do ensino, assim como a questão dos recursos de tecnologia e software necessários para aulas”, pondera Leão Rocha.
Segundo ele, a parte hidráulica custará cerca de R$ 500 mil à universidade, que está tentando solucionar o problema. No entanto, a elétrica do edifício está no limite.
“Precisamos de uma reforma elétrica total por lá, além de trocar toda a fiação. A nossa preocupação com isso é que grande parte dos incêndios em prédios da UFRJ foram originados na parte elétrica”, explica.
Histórico de incêndios
Em setembro de 2018, um incêndio de grandes proporções destruiu o Museu Nacional da UFRJ, em São Cristóvão, na zona norte do Rio. Considerada uma das maiores tragédias da história da instituição, foi originada em um dos aparelhos de ar condicionado instalados no auditório Roquette Pinto, localizado no 1º andar.
Pouco antes, em agosto de 2017, uma das alas do alojamento estudantil da UFRJ, na Ilha do Fundão, também foi vítima das chamas.
Em 2011, o fogo tomou conta do Palácio Universitário, na Praia Vermelha, zona sul da cidade. O local é uma construção de estilo neoclássico, do século XIX, e já abrigou o Instituto de Psiquiatria Pedro II. No local, atualmente funcionam os cursos da Escola de Comunicação, do Instituto de Economia, da Escola de Administração e da Faculdade de Educação.
Problemas orçamentários e de gestões passadas
Em 21 de dezembro, o Congresso Nacional aprovou o orçamento disponível para as instituições ao longo deste ano. A proposta inicial do governo era de cerca de R$ 5,13 bilhões. Após uma contraproposta encaminhada pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), parlamentares aumentaram a quantia apenas em R$ 196 milhões, totalizando R$ 5,32 bilhões para o enfrentamento de 2022.
De acordo com o presidente da entidade, Marcus David, o orçamento de dois anos atrás era de R$ 6,1 bilhões. Agora, o aprovado além de ser inferior, não tem a devida correção em relação à alta inflação. Contas feitas pela associação apontam que o valor corrigido chegaria a R$ 6,8 bilhões para este ano.
“Entre 2020 e 2021, tivemos uma forte redução orçamentária. O acumulado dos dois anos ultrapassa 20% de perda orçamentária. Eu sempre digo que as universidades só não colapsaram nestes anos por conta de grande parte do funcionamento remoto, que gera impacto sobre os custos”, afirma em entrevista ao Metrópoles.
David também afirmou que o orçamento atual não garante o pleno funcionamento para todo o ano de 2022.
“Quando nós, por exemplo, executamos um orçamento em 2019 de 6,1 bilhões, esse orçamento chega a 4,5 bilhões, em 2021, é uma perda de 1,6 bilhões. Nós conseguimos sobreviver com esse corte profundo por gastos que deixamos de incorrer por causa da suspensão de atividades presenciais. Mas, em 2022, a tendência é de voltarmos ao pleno funcionamento”, explica.
Segundo o vice-reitor da UFRJ, diversos motivos levam a atual situação, dentre eles desleixo de gestões passadas e a redução orçamentária.
“O problema orçamentário, no que se refere às estruturas, é muito grave. Se você falar ‘ah, mas e a limpeza ou a segurança?’, a gente toca de algum jeito, mas infraestrutura? Eu não falo de uma situação ideal, eu estou no limite inferior de tudo. No caso da infraestrutura, estou aquém do limite inferior”, afirma Leão Rocha.
Para ele, o impacto do corte orçamentário deve ser muito significativo para a instituição em 2022. A universidade fechou o ano de 2021 com um déficit de R$ 20 milhões e prevê, conforme aprovado no Conselho Universitário (Consuni), fechar o ano com R$ 90 milhões negativos.
“A nossa prática é sempre tentar equacionar, mas não temos como fazer cortes em empresas de limpeza e segurança, por exemplo. São empresas de menor porte, e não têm capacidade de aguentar um atraso no pagamento. Os maiores gastos são em limpeza, segurança e energia elétrica. Quando falamos ‘vou cortar em tal coisa’, a gente já cortou, não tenho mais onde cortar. Na segurança, a gente está no limite”, afirma Leão Rocha.
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Impacto na Educação
No quesito educação, Leão Rocha frisa que também haverá impacto. “O Brasil sempre adotou uma estratégia de retirar os recursos de pesquisas das universidades. Os recursos sempre precisaram vir por meio de agências de financiamento. Então, o que afeta a pesquisa universitária são os cortes na Finep, na Capes e no CNPq. Estamos fazendo um esforço muito grande para não cortar bolsas de Iniciação Científica, vamos pegar recursos extra orçamentários para pagar. Vamos manter o número de bolsas pelo menos esse ano”, assegurou.
Orçamento preocupa outras instituições
O reitor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Antonio Claudio Lucas da Nóbrega, também falou com a reportagem do Metrópoles. Segundo ele, o corte orçamentário é muito grave.
“Esse ano naturalmente haverá um retorno presencial, não há dúvidas de que o presencial acontecerá. Então, isso é muito grave considerando que nós estamos três anos depois [do valor orçamentário de 2019] e com muita inflação”, afirmou Nóbrega.
Segundo o reitor da instituição fluminense, a situação da UFF, hoje, é boa, já que não tem nenhuma dívida. No entanto, a retomada presencial se torna muito temerária.
“Não há como reduzir [os gastos]. Pelo contrário, nós precisamos de expansão. Portanto, é uma situação tensa. Por outro lado, nós temos uma situação bem equilibrada, mas que não é suficiente, obviamente, para dar conta da demanda necessária de uma universidade como a UFF”, diz.
Nóbrega afirma também que não há planos de uma interrupção das aulas presenciais e que, se acontecer, será uma consequência dos cortes feitos pelo governo.
“Nossos planos são sempre de buscar uma solução, essa tem sido a nossa história recente, a universidade sempre se reinventou. A gente espera não ser comprometido, não só pelo equilíbrio que temos hoje, mas também em função da luta da sociedade pela universidade e pela educação.”
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