Policial minimizou denúncia contra dono do Bambambã: “Sabia do risco”

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“Coação, humilhação e constrangimento”. Foi assim que as dezenas de mulheres as quais acusam Gabriel Ferreira Mesquita, dono do bar Bambambã — localizado na 408 Norte, em Brasília —, como suposto autor de uma série de estupros, descreveram o que enfrentaram ao tentarem denunciar o empresário em delegacias especializadas espalhadas pelo país.

Dono do Bambambã é condenado a 6 anos de prisão por estupro

Uma das vítimas, a qual terá a identidade resguardada nesta reportagem, contou ao Metrópoles que registrou boletim de ocorrência após a veiculação dos casos pelo portal. Ao narrar o abuso na Delegacia Especial de Atendimento a Mulher (Deam), localizada na rua Visconde do Rio Branco, 12, Centro, no Rio de Janeiro, teria sido constrangida pela agente Marluce Freitas de Souza, responsável por fazer o registro da queixa.

“Pensei que com o caso na mídia, mais pessoas entenderiam a gravidade do tanto de mulher denunciando. No entanto, quando procurei a delegacia para registrar o BO, acabei ouvindo a seguinte frase da agente: ‘Você não sabia que estar numa cama com um homem, você corria o risco?’”, contou a vítima.

A jovem, então, teria respondido: “Absolutamente nada dá o direito a um homem violar uma mulher. Apesar de no início eu ter consentido a relação, a partir do momento que falei para parar e ele continuou, não existia mais consentimento. Ele me violou”. “É difícil, né? Se nem na delegacia da mulher a gente tem esse acolhimento na hora de denunciar algo tão difícil, aonde a gente vai ter?”, indagou.

Veja quem é Gabriel Ferreira Mesquita:

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À reportagem outra vítima declarou que após ler diversas denúncias nas redes sociais, reuniu coragem e procurou as autoridades, a fim de registrar queixa contra o homem. No entanto, também foi desacreditada e constrangida em uma Deam.

Além disso, segundo a jovem, ao receber a cópia do relatório final do inquérito policial, o delegado Lucas de Souza Lopes, à época comandava a 1ª Delegacia da Mulher, em São Paulo, teria escrito a seguinte frase: “Não há elementos mínimos para fundamentar uma possível denúncia”.

“Toda a história me fez ver, ainda, o quão difícil é denunciar um crime como esse. Não só por medo, vergonha, exposição, mas pelo despreparo dos profissionais. Se nós, juntas, mulheres brancas, instruídas, de classe média fomos hostilizadas e tememos, imagina o que acontece com mulheres humildes, analfabetas, negras, índias e pardas ”, indagou a vítima.

Amigos de dono do Bambambã: “Envolvente”, mas “agressivo e violento”

Em 31 de agosto deste ano, a 2ª Vara Criminal de Brasília condenou Gabriel Ferreira Mesquita a seis anos de prisão em um dos processos no qual é acusado de estupro contra mulheres na capital.

Em um dos argumentos para a condenação, o juiz afirma que “em crimes como no narrado nos autos, em uma sociedade patriarcal como a brasileira, é, infelizmente, natural a demora em denunciar ou jamais denunciar, já que a vítima é humilhada pelo ato de seu agressor. Tal fato – humilhação – causa inúmeros danos à psique da vítima, inclusive medo em denunciar, culpa pelo evento e outros fatores”.

O juiz considera, ainda, que o crime de estupro provoca danos psicológicos extremos na pessoa atacada sexualmente e, por isso, a reação da vítima desse tipo de crime difere das de outros.

Cabe recurso à decisão, e Gabriel poderá recorrer em liberdade.

“Se procurarem a imprensa, arquivarei o inquérito”

Na capital do país o mesmo ocorreu com 12 mulheres que procuraram a Deam, na Asa Sul, como informado pelo Metrópoles na primeira matéria publicada sobre os casos.  As mulheres, após tomarem conhecimento dos casos umas das outras por meio de uma postagem nas redes sociais, criaram coragem para denunciar o agora condenado pela Justiça. Elas procuraram a delegacia especializada, em Brasília, a fim de realizares uma denúncia coletiva contra o estuprador.

Chegando lá, segundo elas, foram convencidas pela então delegada da Deam Sandra Gomes a não tornarem o assunto público sob pena de terem “o inquérito arquivado”. Diante do medo, permaneceram caladas durante todo o período de instrução do processo, o qual, após ter sido apresentado pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) à Justiça, acarretou em uma condenação a Gabriel.

Em nota enviada ao Metrópoles, a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) disse que “todas as delegacias são preparadas para registrarem ocorrências policiais a respeito de abusos sofridos por mulheres, assim como as especializadas”.

Ainda de acordo com a corporação, “vítimas que não conseguirem registrar ocorrências podem efetuar reclamação junto à ouvidoria da PCDF”.

A Polícia Civil do Rio de Janeiro, por sua vez, informou estar “apurando a denúncia [contra a agente Marluce Freitas de Souza], uma vez que o relato não condiz com a metodologia de atendimento das delegacias”. Segundo o órgão, “cuidado e acolhimento são prioridades para as equipes das Delegacias de Atendimento à Mulher (DEAM) do estado do Rio de Janeiro”.

A reportagem tentou localizar o delegado Lucas de Souza Lopes, porém, por telefone, servidores da 1ª Delegacia da Mulher, em São Paulo, informaram que ele não trabalha mais no local e não souberam informar a localização nem um contato do agente. O espaço segue aberto para manifestação.

Oito em cada 10 mulheres vítimas de estupro não procuram atendimento

De acordo com pesquisa Experiências sobre estupro e percepções sobre saídas institucionais para as vítimas, realizada pelos institutos Patrícia Galvão e Locomotiva, em março de 2022, oito em cada 10 mulheres vítimas de violência sexual afirmam não terem procurado nenhuma forma de atendimento, como a polícia ou um serviço de saúde.

O levantamento ainda mostra que a percepção majoritária (70%) é de que as mulheres, as quais sofrem violência sexual, não denunciam o crime à polícia por vergonha, medo de represália e de exposição.

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