Crítica: livro Agora Agora promove reflexão em texto prolixo e confuso

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O livro Agora Agora (2022), do escritor carioca Carlos Eduardo Pereira, é curto e tem premissa interessante. Narra a história de três Jorges, o pai, o filho e o neto. Apesar de prometer bastante, a escrita escorrega em um texo prolixo e confuso, o que pode desagradar o leitor desavisado. A sinopse é vaga, o que deixa a curiosidade inflamar, mas, durante o ato de leitura, enfrenta-se uma confusão.

Os capítulos curtíssimos, entre uma e três páginas no geral, iniciam o livro com a trama do Jorge Ferreira Neto, um professor antissocial e sem amigos no colégio onde trabalha. Essa primeira parte conta o aniversário de 45 anos dele… Ou deveria, não fosse, na verdade,  um compilado de fragmentos, muitas vezes desconexos, de lembranças e pensamentos do aniversariante. Decidido a não trabalhar, ele fica em casa conversando com um amigo, que não aparece no livro com fala própria.

O livro segue com essa história, sem revelar muita coisa, até a segunda parte, a história do dia do aniversário de 45 anos do avô, o Jorge Ferreira. Ele é um homem negro funcionário de uma companhia ferroviária do Rio de Janeiro. Nas horas vagas, Jorge avô cuida de um estabelecimento multiuso só para os negros da cidade. Lá, acontece de tudo, é bar, sede de escola de samba e até mesmo centro religioso.

Aqui, nessa segunda parte, o livro toma mais corpo, há uma história mais bem desenvolvida. Conhecemos o personagem de forma mais decente… até que acaba bruscamente. Não deveria ser surpresa, o livro tem apenas 213 páginas.

Eis que chega a terceira parte. Mescla-se a história do Jorge Ferreira Filho e da infância do Neto. Jorge Filho trabalha em uma empresa de construção, fez carreira na firma, e está levando o Jorge Neto para um colégio militar de ensino integral da Força Aérea. Após deixar o garoto, esse pai some da história, que foca principalmente no bullying sofrido pelo jovem.

O livro faria ótimo proveito de um melhor desenvolvimento dos personagens. A primeira e a última parte deixam muito a desejar.

Crítica social

Entremeia-se na obra críticas ao racismo – incluindo racismo de negros de cor mais clara contra os de pele mais escura – e ironias com relação à política atual. O nome do presidente Jair Bolsonaro (PL), à época em que se passava a história, aparece. Ele ainda era vereador no Rio e os militares diziam que ele seria um representante da categoria no legislativo e um dia chegaria a ocupar assento em Brasília.

O livro se torna confuso principalmente pela ausência de sinais gráficos, tais como travessões e aspas. Com essa escrita desregrada, não raro o narrador (o Jorge Neto é quem conta as histórias) cita o que um personagem falou, mas sem indicar onde acaba o que ele fala e onde começa o que diz o personagem.

Como exemplo, retiramos o trecho do capítulo 31, que inicia a segunda parte. Nele, o narrador conta que o avô estava dormindo com uma mulher no estabelecimento que gerencia. Nota-se que não há essa delimitação entre o que é narração e o que é a fala do Jorge Ferreira.

“(…) faz que vai virar para o outro lado e volta a dormir, por uns segundos só, para logo depois saltar de banda, se enrolar na coberta de xadrez apontando para a preta  e gaguejando Creuzinha do céu! Essa uma aí, quem é?, responde, Creuzinha, responde de uma vez! (…)”

Outro ponto que incomoda, pela repetição, é o monólogo que simula respostas que não aparecem. Fiódor Dostoiévski (1821-1881) utilizava isso magistralmente nos seus livros, um exemplo é Crime e Castigo, um dos mais famosos. O personagem principal usava de monólogos longos para explicar as ideias dele e simulava respostas sem que houvesse indicado o diálogo. Aqui, fica saturado e artificial.

Agora Agora
de Carlos Eduardo Pereira, Ed. Todaviam. Preço: R$ 64,90 (físico); R$ 39,90 (e-book)

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