Documentário explora os laços afetivos militares em Irmãos por Escolha

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O diretor Gabriel Mattar estreia na Netflix, neste domingo (11/6), com o documentário Irmãos por Escolha. A produção, feita na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), vivenciou o dia a dia dos soldados, dormindo no alojamento, e ainda teve ativada uma memória afetiva grande do cineasta.

Além de mostrar todos os acontecimentos da formação dos oficiais, o filme disseca o processo de amadurecimento de alguns cadetes por meio da superação de obstáculos. “Escolhemos [os entrevistados] igual eles escolhem seus melhores amigos, foi no feeling, no sentimento, no carisma mesmo. Às vezes, alguns cadetes que estavam em posição de destaque ou liderando acabavam ganhando a câmera também”, relatou o realizando, em entrevista ao Metrópoles.

O projeto começou em 2013, após a sugestão de um amigo, e uma tragédia pessoal do diretor: a perda do irmão.

“Meu primo e irmão por escolha me deu essa ideia. Leonardo Carvalho também perdeu seu irmão na infância. Éramos quatro e, com as mortes do meu irmão e do irmão dele, ficamos só nós dois. Ele se tornou ator da Rede Globo e ia interpretar um militar na novela Salve Jorge, por isso foi fazer um laboratório na AMAN”, disse.

A experiência do amigo em meio aos cadetes, às aventuras e ao espírito de corpo dos militares deram se tornaram tema de conversas entre os dois. O ator, então, convenceu Gabriel a ir ao local. “Eu fui visitar a academia e decidi fazer o documentário”, contou.

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“Sou civil, mas após fazer o filme, hoje vejo a AMAN como um lugar familiar, e assim será pra sempre”, completou.

O clima familiar, segundo o documentarista, está presente em toda a instituição, tanto que o projeto foi acolhido do “sentinela dos portões” até o comandante. “Lá, costumam dizer que ‘o exército tem muros baixos’. Em poucos minutos, tínhamos o desejo da AMAN de contar sua história”, descreveu.

Entretanto, apesar da facilidade para entrar, ainda tinha outro empecilho: conquistar a confiança dos entrevistados.  Gabriel Mattar e equipe viveram como os soldados, dormindo nos mesmos locais e comendo a mesma comida

Vivências

“Dormimos em todos os tipos de lugares. Desde o hotel de trânsito do exército, ao alojamento dos oficiais, dormimos no parque da infantaria, no acampamento da cavalaria, em redes pendurados nas árvores da selva amazônica… e já não dormimos também, já passamos algumas noites filmando sem parar”, declarou.

Confiança conquistada, a equipe, então, precisava se focar em outro desafio: qual seria o tom da produção? “Tinha a armadilha de se tornar um institucional ou de não conseguir acesso à intimidade, mas aos poucos conseguimos. Na prática, a maior dificuldade foi a Operação Onça Aérea, uma travessia militar na Amazônia. Fomos os primeiros civis a cruzá-la”, descreveu Gabriel. “A segunda maior dificuldade foi aguentar os roncos da minha equipe nas barracas”, brincou.

Experiência transformadora

Mesmo que com uma imagem feita do local, a vivência de Gabriel também mudou a maneira como ele via o local. Além de toda a preparação profissional e de toda a parte operacional e emocional, outra coisa chamou a atenção do cineasta.

“Eles abordam até neurociência aplicada a situações de estresse em combate. O mesmo vai para a parte acadêmica, em que os cadetes aprendem desde direito até filosofia e saem com diplomas de ciências bélicas e administração”.

A experiência que mais marcou o profissional, entretanto, foi como a cultura brasileira se espelha na formação dos soldados e na organização da Academia. “Realmente vejo um espelho da cultura nacional. A onça dos guerreiros de selva, o saci pererê é o símbolo das forças especiais, a oração da montanha é pura poesia, assim como as canções do treinamento físico militar”, relembrou.

Prêmios e estreia

Com data de lançamento na Netflix marcada para este domingo (11/6), o documentário já passou por diversos festivais do Brasil e do mundo. O longa foi apresentado nos Festivais Internacionais de Santa Fé e Flickers Rhode Island, além de receber os prêmios Global do Lift Off e Paris Awards em 2022. No Brasil, o documentário integrou o Festival de Petrópolis do ano passado.

“Minha expectativa é que o público geral conheça um universo novo, que consiga entender a humanidade desses jovens que se propõem a uma vida cheia de desafios e aventuras. E, é claro, que se emocionem e se entretenham”, contou.

Um vazio preenchido

Além do sucesso e do reconhecimento, Irmãos por Escolha representa uma superação para o diretor, que acredita no poder de cura da arte. “A morte do meu irmão deixou um lugar vazio dentro de mim que hoje está preenchido. E com certeza muitos corações serão tocados com essas imagens e narrativa do filme. Hoje o termo Irmãos por Escolha já se tornou um jargão militar proferido até por generais. Todos temos irmãos por escolha”, pontuou.

Gabriel ainda lembra uma passagem das gravações que o emocionou. Ao final do treinamento, os cadetes escolhem, por classificação, o local em que desejam trabalhar, com Brasília sendo um dos mais desejados.

“Cadete 01 de turma ia para Brasília, mas abriu mão dessa unidade para ceder ao seu amigo que estava classificado em quadragésimo quinto lugar para que ele pudesse servir perto de sua mãe, que estava com câncer e mora na cidade”, declarou.

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