O projeto Histórias na Sua Escola chega à segunda edição com o objetivo de auxiliar a transformação do cenário educacional de 10 escolas públicas do Distrito Federal. Em busca de incentivar a leitura e a produção literária entre crianças e adolescentes, a iniciativa realiza, entre agosto e novembro, uma série de atividades que incluem debates com escritores, contação de histórias e um concurso literário. As ações são direcionadas a estudantes da Educação Infantil e do Ensino Fundamental I e II.
Ester Braga, idealizadora e coordenadora da iniciativa, revela que a inspiração para o concurso literário surgiu da vontade de deixar uma marca duradoura nas escolas participantes. “Nós já tínhamos um projeto de contação de histórias, mas eu queria deixar algo a mais. Senti a necessidade de criar algo que realmente pudesse germinar e motivar as crianças para além do momento em que estão presentes na escola. A partir daí, nasceu o concurso literário, que tem sido um sucesso absoluto na comunidade escolar,” explica ao Correio.
Pesquisa
O cenário literário entre os jovens brasileiros, no entanto, é preocupante. De acordo com uma análise dos microdados do exame internacional Pisa 2018, publicada pelo Centro de Pesquisas em Educação, Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede) em parceria com a plataforma Árvore, 66,3% dos estudantes de 15 a 16 anos afirmam que o texto mais longo lido durante o ano letivo foi de até 10 páginas.
Para mudar essa realidade por meio da jornada literária, os professores das escolas participantes têm trabalhado durante o mês de agosto com temas específicos em sala de aula para que os alunos produzam textos que concorrerão no concurso. Este ano, o projeto passará por nove regiões administrativas do DF: Sobradinho, Ceilândia, Planaltina, Samambaia, Estrutural, Gama, Cruzeiro, Recanto das Emas e Plano Piloto.
Um dos temas, em Educação Infantil, tem como foco a Educação Ambiental – Animais e Vegetação do Cerrado, onde os alunos farão ilustrações. No Ensino Fundamental I, as crianças desenvolverão narrativas sobre O Planeta e Eu, abordando a conscientização ambiental e o convívio com a natureza. No Ensino Fundamental II, os alunos escreverão textos com o tema O Outro e Eu, explorando questões como convivência com as diferenças e enfrentamento ao preconceito social, religioso, racial, etário e de gênero.
As produções serão avaliadas por escritores renomados, indicados ao Prêmio Jabuti, e os textos vencedores serão transformados em um livro. Além disso, a autora Flávia Ribas contribuirá com poemas para as ilustrações da Educação Infantil, enquanto Romont Willy e Carmen Santhiago ilustrarão as histórias vencedoras do Ensino Fundamental. Cada escola ganhadora receberá 200 exemplares da edição final, com o intuito não apenas de incentivar os estudantes, mas também de enriquecer o acervo das bibliotecas escolares.
Ester Braga acredita que o sucesso do projeto está no sentimento de pertencimento que ele desperta nos alunos. “Precisamos nos sentir inseridos para buscar nossos objetivos. Foi com esse pensamento que estruturamos essa iniciativa, para que as crianças e jovens se sintam parte do universo literário e entendam a necessidade de temas essenciais para a construção de adultos conscientes,” afirma.
A organizadora enfatiza a importância de documentar e transformar essas produções em livro. “Queremos mostrar para essas crianças e jovens que tudo é possível quando a educação é o alvo é fundamental. O concurso abre a possibilidade de um estudante se tornar autor e ver sua história ilustrada e transformada em livro. Imagine o impacto disso na vida de uma criança. Ver seu nome ao lado de um autor renomado, dando autógrafos, é algo que inspira não apenas o aluno, mas toda a comunidade escolar”, acrescenta.
Milena Fernandes, supervisora pedagógica do Centro de Ensino Fundamental Athos Bulcão (CEFAB), no Cruzeiro Novo, compartilhou como o projeto tem impactado positivamente a escola. “Os alunos estão muito engajados e empolgados. Aproveitamos a proposta do concurso para integrá-la em uma das nossas práticas diversificadas” conta. Ela explica que o concurso foi utilizado como uma oportunidade para trabalhar a escrita colaborativa, onde os alunos escreveram parágrafos em conjunto, trocando textos entre si para superar o bloqueio da folha em branco.