Tecnologia que salva. Durante um treino de musculação em Niterói (RJ), o gerente comercial Roberto Gallart, de 48 anos, sentiu um desconforto no peito que chamou a atenção. Acostumado a monitorar a própria saúde com o auxílio da tecnologia, ele viu um alerta do relógio inteligente que usava no pulso. E isso o salvou de um infarto fulminante.
Roberto contou que usou uma função do aparelho para fazer um teste de eletrocardiograma (ECG) e o resultado repetiu três vezes a mesma mensagem: “ritmo inconclusivo”. Ele estranhou e resolveu procurar um hospital. A decisão rápida salvou a vida dele. Após uma bateria de exames, os médicos descobriram que três artérias coronárias estavam gravemente obstruídas — uma delas quase totalmente bloqueada.
Poucos dias depois, ele foi submetido a uma cirurgia cardíaca e recebeu quatro pontes de safena. Segundo os médicos, a atitude de buscar ajuda imediatamente evitou um infarto fulminante. “O relógio levantou a dúvida suficiente para eu buscar atendimento”, contou o gerente, que hoje está recuperado e voltou à rotina.
O alerta
Com uma rotina disciplinada, Roberto acordava cedo todos os dias para treinar e utilizava o smartwatch para acompanhar sono, apneia e desempenho físico. Naquele dia, porém, o desconforto no lado esquerdo do peito era diferente. Após repetir o teste de ECG três vezes e obter o mesmo resultado, decidiu sair da academia e ir direto ao hospital.
Os primeiros exames não mostraram alterações, mas, por precaução e histórico familiar, ele foi mantido em observação. No dia seguinte, uma angiotomografia revelou o problema: uma artéria praticamente fechada e outras duas com obstruções de cerca de 70%.
“Provavelmente o infarto teria sido fulminante. O relógio me direcionou ao hospital e, graças a Deus, estou vivo”, relatou. Três meses após a cirurgia, Roberto voltou às atividades e passou a incentivar outras pessoas a usarem a tecnologia como aliada da saúde.
Como funciona
Os smartwatches com função de ECG funcionam de forma semelhante aos equipamentos médicos, mas em escala reduzida. De acordo com o Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Samsung Brasil, Otávio Penatti, os sensores do relógio captam sinais elétricos do corpo e os convertem em um traçado cardíaco em tempo real.
Esses dispositivos conseguem identificar padrões irregulares de ritmo, como indícios de fibrilação atrial — uma condição que pode causar AVC —, além de bradicardias e taquicardias. “O relógio se torna uma ferramenta preventiva e um apoio importante na consulta médica”, explicou Penatti.
Além do ECG, os aparelhos oferecem outros recursos, como monitoramento de carga vascular e notificações de ritmo cardíaco irregular, ampliando a compreensão do bem-estar geral. O executivo afirma que o futuro dos dispositivos caminha para uma atuação ainda mais preventiva, com uso de inteligência artificial para detectar riscos antes mesmo de sintomas aparecerem.
O que o relógio identifica
Especialistas reforçam que, embora os relógios inteligentes tenham boa precisão na triagem de arritmias, eles não substituem exames médicos completos. Segundo o cardiologista Fábio Jatene, do Instituto do Coração (InCor), os dispositivos são capazes de captar apenas uma derivação elétrica do coração, o que limita a detecção de infartos ou outras alterações mais complexas.
“Eles funcionam como um alerta, indicando que algo pode estar errado, mas não determinam o tipo ou a extensão do problema”, explicou o médico. Ainda assim, estudos do InCor apontam acurácia superior a 93% na detecção de fibrilação atrial.
Jatene destaca que o uso contínuo do smartwatch pode ajudar a registrar eventos cardíacos que passariam despercebidos em exames pontuais. “O paciente pode utilizá-lo por semanas, aumentando a chance de capturar irregularidades intermitentes”, afirmou.
Uso responsável é essencial
Casos como o de Roberto Gallart mostram que os relógios inteligentes estão deixando de ser apenas acessórios tecnológicos para se tornarem aliados na prevenção de problemas de saúde. No entanto, o uso deve ser feito com cautela.
Segundo Fábio Jatene, fatores como movimento excessivo, suor e mau contato com a pele podem gerar falsos alertas. Por isso, ele recomenda que os resultados sejam sempre interpretados com acompanhamento médico.
“O smartwatch é um apoio, não um diagnóstico. O equilíbrio está em valorizar os sintomas e procurar atendimento quando algo parecer fora do normal”, afirmou o cardiologista.





































