Seis anos se passaram desde que a história do filme O Homem Cordial foi escrita. Com roteiro assinado pelo brasiliense Iberê Carvalho e o uruguaio Pablo Stoll, o longa chega aos cinemas de todo o Brasil na próxima quinta-feira (11/5) e continua atual. Nas telas, fake news, linchamento, cancelamento no universo das redes sociais, racismo e violência policial permeiam as cenas interpretadas por nomes como Paulo Miklos, Thaíde e Roberta Estrela D’Alva.
“Acho que o filme chega na hora certa. O Brasil hoje, eu diria, que é um país pós-trauma. Não só por conta dos mais de 700 mil mortos na pandemia, mas também devido a um governo extremamente violento, agressivo, que usa da mentira como um instrumento institucional. Esse trauma ainda é muito recente e o filme procura discutir tudo isso, procura discutir esses lugares de privilégio e as injustiças. É um momento em que a gente precisa repensar o Brasil para não repetir os mesmos erros do passado”, analisa Iberê em entrevista ao Metrópoles.
Nome a frente da direção do longa, ele também ressalta que a produção também foi inspirada pela “angústia de ver uma direita ultra conservadora e reacionária crescendo de forma exponencial” e “de ver a Internet sendo usada como instrumento de manipulação das massas”. Com o projeto no ar, ele quer provocar a sociedade a olhar com maior atenção para os problemas do país.
Como mote principal da trama, O Homem Cordial apresenta o linchamento real e virtual e o cancelamento por causa das redes sociais. “O negócio é aquilo vai tendo repercussão real na vida das pessoas que estão na ponta e, dependendo da sua cor de pele, da sua classe social, a repercussão é ainda mais forte. É sobre isso que a gente está falando”, afirma.
Embora o longa levante questionamentos e sugira críticas, Iberê Carvalho opta pelo filme sem final fechado e permite que as pessoas tirem conclusões sem interferência direta dele. A ideia é que as percepções mudem de acordo com a perspectiva e ideologia de cada um. “É um thriller de suspense que procura colocar o espectador em um estado realmente de atenção, tensão, e um pouco de aflição e curiosidade para saber onde é que [tudo aquilo] vai dar.”
O que interferiu na estreia de O Homem Cordial
Rodado em 2018, o filme estreou um ano depois nos festivais de cinema, mas apenas agora chega ao circuito comercial. Para o diretor do longa, a demora teve dois motivos principais: a pandemia e o governo de Jair Bolsonaro (PL).
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“A gente teve a pandemia que fez com que as salas de cinema ficassem fechadas durante um bom tempo. E isso, de qualquer forma, paralisou. E é uma coisa muito maior, que não dependeu de ninguém, nem de nenhuma característica do filme. Isso atingiu a todos”, analisa.
No entanto, mesmo com a reabertura dos cinemas, a equipe se deparou com outras dificuldades. “O que a gente encontrou foi um governo que paralisou todas as linhas de fomento e de financiamento da distribuição dos filmes nacionais. A Ancine ficou completamente paralisada”, relata.
“Eu não acho que é coincidência que a gente recebeu o dinheiro do edital que ganhamos em 2019 para lançamento do filme logo que mudou o governo. Eu não acho que é coincidência, mas cada um tira suas próprias conclusões.”
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