Final digno de roteiro hollywoodiano e filmes do Rocky Balboa. É isso que o documentário Como água, com pré-estreia marcada para a próxima segunda-feira, traz para os espectadores. O longa, que mostra a preparação do brasileiro Anderson Silva para o combate contra Chael Sonnen (EUA), em agosto de 2010, não poderia ter sido filmado em melhor hora pelo diretor norte-americano Pablo Croce e o produtor Jared Freedman.
Em abril de 2010, quando começaram a gravar, Anderson Silva vinha de uma vitória sobre o compatriota Demian Maia e iria iniciar a preparação para o próximo adversário: o falastrão Sonnen. Na época, o Spider já ostentava o título de campeão dos pesos médio, uma sequência de 12 triunfos consecutivos e ainda contava com seis defesas de cinturão — com sucesso — no currículo. Apesar de tudo isso, estava sofrendo críticas devido ao comportamento no combate contra Demian, quando, em vez de lutar, ficou provocando e humilhando o rival.
A atitude do brasileiro dentro do octógono irritou até Dana White, o poderoso chefão do UFC, que ameaçou demitir o lutador da organização. “Eu não me importo se ele é o melhor do mundo. Eu não me importo se ele é o campeão dos médios. Eu irei cortá-lo”, afirmou o dirigente em uma entrevista à tevê norte-americana e mostrada no longa.
Em meio às polêmicas, Anderson Silva começava a se preparar para o que seria a luta mais complicada da vitoriosa carreira. Ao longo do documentário, os espectadores acompanham os treinos do brasileiro com os amigos e também lutadores Lyoto Machida, Júnior Cigano e Antônio Minotauro. A dura rotina se revela desgastante física e emocionalmente, já que o campeão dos médios passou boa parte dos quatro meses treinando em Los Angeles, longe da família, que mora em Curitiba.
Se de um lado o filme exibe Anderson Silva às voltas com um drama pessoal, do outro, o diretor Pablo Croce contou com o vilão perfeito para a história. Irônico e falastrão, Chael Sonnen aparece em entrevistas polêmicas, sempre alfinetando o brasileiro. Sonnen, especialista em wrestling, era visto como o único lutador capaz de parar o Spider e aproveitava essa brecha para intimidar e insultar o rival.
Após quatro meses de filmagem, o documentário ganhou a cena principal: a luta entre Anderson Silva e Chael Sonnen, que ocorreu em 7 de agosto de 2010, no UFC 117. Durante o combate, o brasileiro apanha como nunca ocorrera antes na carreira no MMA e sofre por quatro rounds e meio nas mãos do norte-americano. A reação dos narradores e do público mostra como parecia inacreditável o que era visto no octógono. Porém, para alegria do brasileiro, dos fãs e do diretor do filme, uma reviravolta fez com que o campeão dos médios conseguisse encaixar um triângulo faltando dois minutos e meio para o fim do quinto e decisivo assalto. Resultado: mais uma vitória do Spider, que manteve o cinturão dos pesos-médios.
Inspirado no ídolo
Segundo o diretor Pablo Croce, o título do documentário é inspirado em uma famosa citação de Bruce Lee, ídolo máximo de Anderson Silva, de que um artista marcial deve ser “como água” — sem forma, facilmente adaptável a qualquer ambiente. “Anderson diz que o estado mental dele quando entra no ringue tem que ser como água”, explicou Croce.
O documentário, que foi exibido pela primeira vez no Brasil no ano passado, durante o Festival do Rio de Cinema, não poderia ser lançado em melhor hora. O longa servirá de aperitivo para a tão aguardada revanche entre Anderson Silva e Chael Sonnen, que está prevista para ocorrer em junho deste ano, ainda sem local confirmado. O brasileiro agora já tem nove defesas de cinturão e uma sequência de 15 lutas invicto. Sonnen, por sua vez, vem de duas vitórias e continua falastrão.
A luta estava prevista para ser no Pacaembu, em São Paulo. Porém, devido à lei de silêncio, que não permite barulho após à 1h no local, o duelo ainda está sem local marcado. Pode acontecer, então, no Rio de Janeiro ou em Las Vegas.
Drogas e fratura
A aguardada revanche entre Anderson Silva e Chael Sonnen demorou a ser marcada porque o norte-americano ficou suspenso por um ano das lutas, devido ao teste positivo no antidoping, justamente na luta contra o brasileiro. Enquanto Sonnen lutou com drogas no corpo, Anderson revelou depois que entrou no octógono com uma lesão na costela direita. As situações não são citadas no documentário.