Quando Iza lançou Evapora, sua parceria com Ciara e Major Lazer, um detalhe chamou atenção do público: a faixa tem apenas 02 minutos e 07 segundos. A popstar está seguindo uma tendência que tomou a cena brasileira e internacional. Músicas mais curtas que o “padrão” de 3 minutos dominam o mercado fonográfico.
De acordo com levantamento feito pelo (M)Dados, núcleo de análise de dados do Metrópoles, as músicas ficaram 10 segundos mais curtas nos últimos três anos. A análise levou em conta as 30 faixas brasileiras mais tocadas no Spotify em 2017, 2018, 2019.
Em 2017, em média, as músicas duraram 03 minutos e 08 segundos. Já em 2018, o tempo chegou a 03 minutos e 04 segundos. Neste ano, o padrão baixou da casa tradicional: a média é de 02 minutos e 58 segundos.
Os mais recentes lançamentos da música pop brasileira seguem esse padrão. Luan Santana, com Quando a Bad Bater, por exemplo, chega a 02 minutos e 59 segundos. Gloria Groove, no EP Alegoria, não tem nenhuma faixa ultrapassando a marca dos 03 minutos – o mesmo ocorre com Pabllo Vittar na primeira parte do disco 111.
Valesca Popozuda, há algumas semanas, divulgou o single Furduncinho e levou a questão da duração ao extremo: a faixa tem 01 minuto e 46 segundos. “Uma música curta que tenha uma letra com uma batida bacana é mais agradável de se ouvir diversas vezes em comparação a uma canção longa e repetitiva. Pelo lado comercial, essa estratégia torna-se bem mais viável”, comenta a funkeira, em entrevista ao Metrópoles.
A estratégia comercial referida por Valesca Popozuda está ligada ao novo contexto de distribuição de música. Com streamings e YouTube, artistas são remunerados com a quantidade de “plays” (ou “streams”), portanto, faixas menores têm chances maiores de serem tocadas mais vezes.
“Acredito que a chegada das plataformas de streaming tem grande influência nesta transformação. Se antes a obra do artista era adquirida fisicamente e consumida como um todo, hoje isso é sobreposto pela dinâmica de singles e distribuição digital”, diz Gloria Groove.
Economia da atenção
Além da dinâmica dos meios digitais e também das rádios, artistas e produtores indicam outro motivo para a redução das faixas: a economia da atenção. Boa parte dos jovens, os mais ávidos consumidores de novidades, são bombardeados por diversos conteúdos ao longo do dia. E, em regra, os mais ágeis levam vantagem.
O rapper Konai, por exemplo, defende essa tese. “Com o número de lançamentos hoje em dia, você precisa prender a atenção das pessoas. Para isso, temos que acompanhar esse ritmo, produzindo faixas que captem os ouvintes da forma mais rápida e eficaz possível”, avalia o músico. Para ele, redes sociais e streaming aumentaram a oferta de conteúdo disponível.
Para o DJ DUH, produtor da Laboratório Fantasma, do rapper Emicida, a nova geração de ouvintes resiste a faixas mais extensas. “Fui pai de adolescente e percebo que a juventude e as rádios não gostam de lidar com músicas mais longas. Eles perdem a paciência e as largam na maior parte das vezes”, relata.
Produtor de nomes como Rael, Drik Barbosa, Rashid e Muzzique, DUH discorda, porém, da lógica de que canções menores são mais ouvidas. Para ele, a qualidade ainda tem um peso maior do que o tamanho, por exemplo.
“O que gera mais ‘plays’ é uma música bem construída, com refrão legal e uma melodia mais interessante. Isso é o mais importante, afinal, estamos lidando com entretenimento. Faixa boa é aquela que se canta e se tem vontade de ouvir”, conclui.
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