Jukebox Sentimental: Blondie vem ao Brasil 40 anos após disco clássico

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    Passados 45 anos de sua criação, o Blondie, uma das bandas mais icônicas do final dos anos 70 e começo dos 80, liderada pela eterna loira platinada Debbie Harry, se apresentará no Brasil pela primeira vez. O evento acontece no próximo dia 15, em São Paulo, no Popload Festival. Você então pula de alegria, guarda energia para o encontro, depois para um pouco e se dá conta de que Parallel Lines, o álbum símbolo do grupo nova-iorquino, completa 40 anos.

    Lançado no final de outubro de 1978, o disco, o terceiro do quinteto, contou com produção do australiano Mike Chapman e chegou ao topo das paradas do Reino Unido, oficializando, assim, a Blondiemania. Não é pouca coisa se considerar que tudo isso aconteceu quando o punk inglês ainda espargia fúria e indignação contra o sistema vigente no país via Sex Pistols, The Clash e outros rebeldes de alfinetes e roupas rasgadas de plantão.

    Divulgação

    “Recebi a responsabilidade de colocar essa banda no topo das paradas”, lembraria anos depois Chapman, após uma conversa com Terry Ellis, um dos sócios da gravadora Chrysalis, que havia decidido bancar o grupo. “A ideia era fazer um álbum de sucesso”, admitiria o baterista Clem.

    Após se firmar no mercado, conquistar corações de uma legião de fãs com sua sonoridade retrô calcado no pop melódico das girl groups dos anos 60 – uma obsessão tanto de Debbie quanto do namorado e guitarrista Chris Stein – e trazer uma certa atitude punk bem registrada nos álbuns Blondie (1976) e Plastic Letters (1978), o grupo resolveu radicalizar. A resposta seria Parallel Lines.

    Precursores da New Wave
    Mas essa guinada não seria assim da noite para o dia. Apesar de amigos, no começo, Mike Chapman e os integrantes da banda andaram se estranhando. A ponto de o tecladista Jimmy Destri, num acesso de fúria, lhe atirar um sintetizador de U$$ 50 mil dólares. Preocupados mais em tocar do que fazer sucesso, o Blondie, uma das atrações recorrente do mítico clube CGBG junto com Ramones e Television, entre outros grupos, tiveram que entrar na linha.

    “Paralle Lines foi o mais duro que já havíamos trabalhado em um álbum”, conferia novamente sem o menor pudor Clem na biografia definitiva da banda lançada em 2012 por Dick Porter e Kris Needs.

    Com o tempo as coisas foram entrando no eixo e é perceptível a mudança no som da banda, que soava mais pop, dentro da lógica glam rock do produtor Chapman, autor de hits como o sucesso do Sweet, Little Willy.

    O radicalismo sonoro é evidente no hit planetário Heart of Glass, que mistura o electropop do Kraftwerk com a energia dançante da disco. Música das antigas usada para irritar os fãs da primeira fase da banda, quando eles ainda tinham nas veias resquícios punk, foi ressuscitada pelo guitarrista Chris Stein, com seu drum machine da introdução e tudo o mais, para brilhar mesmo nas pistas. Deu certo, fazendo da banda um dos precursores da New Wave Music.

    “Nós queríamos combinar certo grau de experimentação com um apelo de massas, como aquela música da Donna Summer, I Feel Love”, admitiu cinicamente Stein.

    A faixa de abertura, Hanging On The Telephone, um cover dos Nerves assinado por Jack Lee, com seus efeitos especiais clichês, mas eficientes, é vigor punk misturado com as purpurinas do rock de David Bowie e Marc Bolan. Na enérgica One Way or Another, Debbie Harry lembra os tempos em que era perseguida por tarados pelas ruas de Nova York. “De um jeito ou de outro eu vou te achar, vou te pegar”, ironiza a loira fatal.

    Picture This, a única que traz a parceria do casal Chris e Debbie com o tecladista Jimmy Destri, foi um sucesso nas paradas britânicas, assim como as guloseimas Sunday Girl e Pretty Baby. A primeira, com suas palmas à la Beatles, representa um momento de graça do guitarrista e a segunda foi inspirada nas impressões da vocalista sobre o polêmico filme homônimo de Louis Malle com uma Brooke Shields na pele de ninfeta desnuda.

    Ícone do rock progressivo e líder da charmosa e angustiante banda do gênero King Crimson, Robert Fripp era um entusiasta do som do Blondie em meados dos anos 70. Quando surgiu a oportunidade, não titubeou em emprestar os acordes de sua guitarra glacial na hipnótica faixa Fade Away (And Radiate). Último integrante a fazer parte da formação clássica da banda, Frank “Freak” Infante colaborou para o álbum com a Lou Reediana I Don’t But I Don’t Know.

    “Saiu inteira. Eu só me sentei com um gravador e comecei a dizer as palavras e então comecei a cantar e tocar a guitarra. O que tudo isso significa? Não significa nada… Você interpreta do jeito que quiser”, desconversou o guitarrista, que a princípio entrou na banda como baixista.

    O disco, que ainda conta com os covers Will Anything Happen e I’m Gonna Love You Too, além da contribuição sombria de Destri em 11:59 e divagações existências de Debbie em cima do personagem Walter Mitty – aquele mesmo do filme com Ben Stiller –, de James Thurber, em Just Go Away, não agradou à gravadora, que mandou refazê-lo. O que a banda e produtor não fizeram, claro, e cabe a você tirar as conclusões de quem venceu essa parada.

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