Falta pouco

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Padre Flávio Jorge Miguel Jr

Como um pesado avião que precisa de muita pista até que venha a parar totalmente, assim é o vírus da Covid-19. O que acontece hoje será sentido em duas semanas à frente.

Os Estados Unidos tiveram a maior quantidade de internados e mortos desde o surgimento da pandemia: na quinta-feira foram mais de 3 mil mortes num único dia, superando a trágica marca de 2,6 mil mortes de abril passado. A Covid já matou 1,5 milhão de pessoas em todo o planeta.

Como um enorme petroleiro que precisa manobrar bem antes para poder atracar, o vírus Corona-19 deixa clara evidência de suas intenções: aglomerações, rostos expostos, contato físico. Roleta russa.

“Os números são impressionantes e a posição do Brasil não é nada honrosa. O Brasil tem menos de 3% da população do planeta, mas já responde por 11% do total de mortes por Covid no mundo. Há menos de dois meses, passamos de 150 mil mortes por Covid. E agora, já temos um total de 175.307 pessoas que perderam a vida por causa da doença” reporta o Jornal Nacional. Os casos voltaram a crescer após o relaxamento de cuidados.

Hoje temos na Santa Casa de Sorocaba 100% de lotação de nossos leitos para esse tipo de atendimento. Conforme previsto e esperado e, ainda assim, infelizmente, real.

Um amigo cogitou se seria assim que a nossa — de Sorocaba, da população de Sorocaba — Santa Casa gostaria de ser reconhecida, tão proximamente ao Covid-19. “Vamos ser lembrados por ser um hospital e uma grande equipe que salvou muitas vidas, por um longo período, numa época muito difícil”, disse eu. Tenho a honra de pertencer a essa equipe que leva a sério seu trabalho com poucos recursos públicos.

O trabalho é estafante. Cuidar de pacientes que podem não sair com vida, por melhor e mais rápido que seja o atendimento, por mais moderno e ideal que seja o protocolo para a cura. O que resta é deixar que o paciente tenha condições de responder dentro das melhores condições que possamos oferecer. Diferente da primeira onda, o grupo de risco, agora, são os jovens e aqueles com algumas doenças pré-existentes. Tudo é possível. A fé de cada família ajuda muito.

O importante é evitar o contágio. Tão próximo do Natal do Menino Jesus, nossa vontade é abraçar, sentir o calor tão querido dos nossos. As recentes festa e aglomerações têm produzido novos pacientes que não precisariam estar nos hospitais. Aquela tão conhecida “curva” (do gráfico imaginário) precisa se manter baixa ou achatada para que os hospitais e profissionais possam atender à população. Estamos sem o hospital de campanha que permitia um pré-atendimento até encontrar vagas para pleno atendimento. Os outros hospitais públicos estão no topo de sua capacidade. Os particulares variam próximos de 70 a 80%, às vezes 90%. Poucas ambulâncias estão operacionais.

Nosso Natal deverá ser, como nunca, a real celebração do nascimento do Salvador. Introspecção, oração pelos nossos e pelo próximo. Em Jesus nossa fé e nossas esperanças. Esperanças de que a cura através da vacina sem ideologia chegue logo. Ainda neste mês, países na Europa e Estados Unidos começam a vacinação. Esperanças de que nossos médicos e corpo de enfermagem ainda tenham forças para resistir. Esperanças de que nós possamos, por nossa conta, juízo e exemplo, evitar o contágio cada vez mais próximo e cada vez mais no fim. Falta pouco. Muito pouco.

Padre Flávio Jorge Miguel Jr. é presidente da Santa Casa de Misericórdia de Sorocaba.

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