Pragmático, Tarcísio adota “kassabismo” como estilo de governo

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São Paulo – Além de aposentar o discurso bolsonarista adotado na campanha eleitoral e distribuir mais cargos a kassabistas no seu secretariado, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) tem dado mostras de que até no estilo de governar se espelha mais em seu articulador político, o secretário de Governo, Gilberto Kassab (PSD), do que em seu padrinho político, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O “kassabismo” de Tarcísio aparece nos acenos feitos pelo governador a agentes de todos os espectros políticos — incluindo rivais entre si, como Bolsonaro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) –, nas agendas pelo interior do estado com aras de “zeladoria” e nos recuos diante de erros ou ações que causam polêmica e desgaste político.

Agendas de zeladoria

Quem se recorda da gestão Kassab na Prefeitura de São Paulo, entre 2006 e 2012, logo identifica as semelhanças. Quando era prefeito, o atual secretário de Governo de Tarcísio e presidente do PSD tinha como praxe acompanhar ações de limpeza da cidade — chegou-se a criar um site no qual o munícipe poderia conferir quantas vezes sua rua seria varrida na semana.

Tarcísio não precisa se preocupar com varrição de ruas como governador, mas assumiu o mandato em meio aos temporais de verão que têm causado estragos em diversas regiões, que recebem uma atenção especial do chefe do Executivo paulista. Em sete semanas de governo, já foram oito agendas relacionadas à prevenção de acidentes provocados pelas chuvas, como a entrega de obras ou de viaturas da Defesa Civil para as prefeituras.

Recuos de ações

Kassab, quando era prefeito, agradecia a imprensa quando apontava alguma irregularidade na sua gestão e admitia erros tão logo eles eram expostos. Não raro, lançava uma ideia para mudar algo na cidade, especialmente relacionado ao trânsito, e recuava quando ela não era bem aceita pela opinião pública. A estratégia ajudava a encerrar mais rápido as pautas negativas, como em 2011, quando ele reconheceu uma falha após a revelação de que construtoras haviam conseguido licenças para construir 23 empreendimentos sem pagar taxas.

Tarcísio experimentou há uma semana uma situação parecida, quando admitiu rapidamente um erro após vetar um projeto de lei que extinguia prazo de validade para laudos que atestassem autismo, uma condição permanente. O caso ganhou contornos mais fortes porque o governo estadual havia dado uma justificativa imprecisa para o veto, indicando que o autismo poderia regredir caso diagnosticados precocemente. A crise durou menos de 24 horas e se encerrou com Tarcísio indo à TV e às redes sociais para admitir: “Erramos”. 

Relações políticas

Foi durante sua gestão como prefeito que Kassab criou o PSD, partido que ele mesmo definiu como “nem de direita, nem de esquerda, nem de centro”. Ex-vice de José Serra (PSDB), ele logo depois se aliou ao PT e aderiu à base da então presidente Dilma Rousseff, de quem virou ministro das Cidades após deixar a Prefeitura da capital. O estilo “um pé em cada canoa” ficou escancarado no impeachment de Dilma, em 2016, quando ele se manteve ministro após a posse de Michel Temer. Agora, o PSD apoia tanto Tarcísio em São Paulo, quanto Lula em Brasília.

Tarcísio, por sua vez, já fez relevantes acenos para Lula, com quem já se encontrou três vezes neste ano. Em um evento com investidores, disse que os dois eram “sócios” no projeto de fazer o Brasil crescer. Também autorizou Kassab a buscar diálogo com petistas na Assembleia Legislativa e teve um encontro fora da agenda em São Paulo com o ministro Alexandre de Moraes, principal algoz de Bolsonaro.

Por outro lado, apesar de já ter negado ser um bolsonarista raiz, Tarcísio, sempre que pode, usa a palavra “gratidão” para se referir a Bolsonaro em eventos públicos — foi o ex-presidente quem decidiu lançar em 2022 o então ministro da Infraestrutura, carioca e morador de Brasília, candidato a governador de São Paulo. Tarcísio também abriu espaço para expoentes do bolsonarismo no seu primeiro escalão, com a indicação da antifeminista Sonaira Fernandes para a Secretaria da Mulher e do deputado Guilherme Derrite para a Segurança Pública.

De forma mais direta, Tarcísio testou a tática de se equilibrar entre esquerda e direita com a recente sanção de dois projetos ligados à área da saúde. Um foi o da distribuição de remédios à base de canabidiol na rede pública, contestado pela direita radical. Outro foi a proibição da exigência de comprovante de vacinação contra Covid-19, uma bandeira bolsonarista. Ambos estavam envolvidos em polêmicas de cunho ideológico.

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