Água santa

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Recurso natural essencial para a existência e sobrevivência das diferentes formas de vida no planeta, a água tem estado no centro de muitas discussões nas últimas décadas. A água era considerada um recurso inesgotável. Contudo, desde que virou símbolo de prosperidade e riqueza, por ter sido transformada em mercadoria, passou também a ser sinônimo de conflito. O mau uso, o desperdício, a distribuição, bem como sua variada ocorrência são responsáveis por criar conflitos e causar inquietação em diversas regiões do mundo. A preocupação com a disponibilidade de água é pauta frequente nas questões e discussões ambientais e geopolíticas.

Não seria diferente aqui em Sorocaba. Infelizmente, temos constatado ocorrências preocupantes na área ambiental que foram registradas recentemente na cidade. A primeira denúncia diz respeito à presença, nos últimos dias, de produtos químicos em vários pontos do córrego da Água Vermelha. Na semana passada, moradores de Sorocaba chegaram a passar mal por conta do forte cheiro depois que o líquido se misturou com a água que passa por vários bairros da zona sul. A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) informou que não foram identificadas empresas próximas aos cursos d’água dos córregos Lageado e Água Vermelha com potencial para gerar a poluição identificada pelos moradores. O Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) e a Secretaria de Meio Ambiente de Sorocaba (Sema) foram notificados para continuar com a investigação e o material poluente está sendo analisado pela Cetesb.

Dias depois, manchas escuras de óleo surgiram nos lagos do Parque Campolim, que também fica na zona sul da cidade. Para evitar que a mancha se espalhasse para outros lagos da praça, uma barreira física com mangueira plástica foi colocada na água por técnicos do Saae. Caminhões foram usados para retirar o produto químico da superfície. A primeira impressão, segundo os técnicos, é a de atitude intencional. Nesse caso, seria o segundo lançamento irregular na cidade no período de apenas uma semana. Um engenheiro da Cetesb chegou a afirmar, inclusive, que os dois casos estão relacionados, já que aparentemente se trata do mesmo produto.

Uma das suspeitas é de que um caminhão tenha sido utilizado para jogar o produto químico em uma boca-de-lobo na rodovia Raposo Tavares, próximo à região do Campolim. A rede é responsável por escoar a água da chuva e, por isso, é direcionada até os lagos do parque Carlos Alberto de Souza. Cetesb e Saae investigam as ocorrências para tentar identificar o responsável e até a Polícia Civil pode ser acionada para entrar no caso, considerado crime.

Também não podemos esquecer a situação do rio Pirajibu, em Itu, que vem recebendo esgoto in natura — sem qualquer tratamento. No local existia uma estação de tratamento de dejetos, mas que está desativada.

Tal situação está sendo investigada pelo Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP), por meio da Promotoria de Itu. O processo leva em consideração relatos da Promotoria do Meio Ambiente de Sorocaba, referente à mortandade de peixes ao longo do Pirajibu, um dos afluentes do rio Sorocaba. O Pirajibu desemboca no rio Sorocaba no bairro Vitória Régia, na zona norte de Sorocaba.

Já com relação ao abastecimento, a represa de Itupararanga, cujo reservatório abastece 80% de Sorocaba, além de atender a outros municípios da região, está atualmente com menos de 35% de seu volume, nível inferior ao normal para essa época do ano. Por outro lado, o consumo de água na cidade também aumentou nos últimos dias, devido ao calor, segundo o Saae.

E todas essas situações acontecem justamente na mesma época em que o Saae informa que iniciará em breve a captação de água do rio Sorocaba para abastecimento da população. A captação será exatamente na foz do Pirajibu.

Enfim, são várias ocorrências que comprometem a qualidade da água em pouco tempo, o que mostra que a fiscalização precisa ser rigorosa, assim como os culpados precisam ser identificados e punidos exemplarmente.

É tarefa de todos nós não desperdiçar água, cuidar do lixo para que ele não venha a poluir rios e córregos e tratar esse recurso natural como ele merece.

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